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Cavalos feitos de nuvens? O mundo bizarro da Captcha, o teste que certifica que não somos robôs

reCAPTCHA

Este sistema de filtragem dos robôs está presente em 15% de toda a internet. Muitos consideram os testes irritantes e a Apple está a apostar em alternativas, mas há quem acredite que as captchas vieram para ficar.

São um procedimento obrigatório para se aceder a muitos sites. Tentamos fazer o login e, de repente, somos deparados com um teste que nos obriga a escolher as imagens de pontes, de autocarros ou de bocas de incêndio — tudo em para que os sites se certifiquem de que não somos robôs.

Mas com o passar do tempo, estas captchas — acrónimo de Completely Automated Public Turing Test to Tell Computers and Humans Apart ou, em tradução livre, teste de Turing público completamente automatizado para distinção entre computadores e humanos — começaram a tornar-se cada vez mais estranhas.

Há agora exemplos em que os utilizadores têm de escolher imagens bizarras de cavalos feitos de nuvens ou de cães a sorrir, sem se falar da qualidade das imagens em muitos dos testes, onde as fotos parecem ter sido tiradas com uma torradeira.

Em Janeiro de 2022, este sistema do Google estava operacional em 15% de toda a internet. E estes testes cada vez mais difíceis não são só divertidos, já que podem ser uma dor de cabeça para quem tem menores aptidões para lidar com as tecnologias.

Eileen Ridge, que dá conselhos para o uso das tecnologias a quem não pesca muito destas modernices, conta à Wired que recebe frequentemente chamadas de clientes mais idosos que não conseguem distinguir uma mancha de tinta num passeio de uma passadeira e temem que um erro destes os possa impedir de aceder à conta.

Inicialmente foram criadas para serem um teste que facilmente distinguiria os utilizadores humanos dos robôs, mas de fácil têm cada vez menos. A investigadora de computação social Effie Le Moignan descreve mesmo as Captchas uma “atrocidade de interação entre o humano e computador”.

O Google inicialmente comprou a reCAPTCHA, que foi desenvolvida por Luis Van Ahn, fundador do Duolingo, em 2009, por dezenas de milhões de dólares. Ao fim de vários anos de domínio, parece que a tecnologia está a começar a morrer.

Recentemente, a Apple abandonou a Captcha e optou antes pelos Private Access Tokens, que procuram também detectar os comportamentos típicos de um robô de uma forma menos incómoda para os utilizadores.

“Às vezes uma captcha é só um botão para se carregar. Mas outras podem ser um desafio para se preencher. As captchas muitas vezes levam a uma experiência para o utilizador mais complexa e mais lenta“, explica Tommy Pauly, engenheiro da Apple, que diz que a nova alternativa vai “poupar muito tempo a muitas pessoas”.

Mas para Eli-Shaoul Khedouri, CEO da Intuition Machines, a empresa por trás da hCaptcha, a morte deste sistema ainda está longe e os Private Access Tokens não o substituem. “Não vos queremos aborrecer até à morte. Será como um jogo“, refere, avançando que está a preparar novas variantes de puzzles para os utilizadores resolverem, muitos com imagens de animais, uma das paixões da internet.

“Pensem nisto desta forma: o objectivo da captcha é fazer o que as pessoas fazem. Se a maioria das pessoas estiver a cometer os mesmos erros, não há problema”, esclarece Khedouri, que garante que o sistema tem uma taxa de sucesso de 99%, o que significa que 99% dos utilizadores resolvem o teste nas duas primeiras tentativas.

Se alguns dos testes actuais já são difíceis para quem tem dificuldades de aprendizagem ou problemas de visão, um futuro repleto de testes com cavalos feitos de nuvens pode ser ainda mais difícil para estes utilizadores.

Mesmo assim, Khedouri acredita que as captchas não vão a lugar nenhum: “Enquano houver coisas que as pessoas podem fazer rápido que as máquinas não podem fazer facilmente, então haverá sempre uma forma de verificação“.

Adriana Peixoto, ZAP //

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