Casos de gripe das aves em humanos nos EUA caíram bruscamente. Ninguém sabe porquê

CDC

Esta imagem de microscopia eletrónica mostra dois viriões de Influenza A (H5N1), um tipo de vírus da gripe das aves

O mistério à volta da queda repentina nos casos de gripe aviária em humanos nos EUA está a levantar receios de que os cortes governamentais tenham feito diminuir o número de testes de despistagem e estejam a afetar a monitorização da doença. Mas há outras explicações possíveis.

A intrigante interrupção nos casos reportados de gripe aviária em humanos levou as autoridades de saúde a renovarem apelos à vigilância, enquanto os especialistas debatem várias teorias sobre esta súbita diminuição.

As autoridades de saúde continuam a recomendar cautela, numa altura em que persistem questões sobre os potenciais fatores que possam ter contribuído para a queda abrupta de casos reportados nos Estados Unidos.

Entre as possíveis razões, são apontados o impacto dos cortes governamentais na deteção de casos, o aumento do receio entre trabalhadores agrícolas imigrantes (um grupo demográfico desproporcionadamente afetado pelo vírus) de realizar testes devido a preocupações com a aplicação das leis de imigração, e a possibilidade de um declínio natural nas infeções.

“Simplesmente não sabemos porque não há mais casos,” diz a epidemiologista Jennifer Nuzzo, diretora do Centro de Pandemias da Universidade Brown, citada pelo The Independent. “Penso que devemos assumir que há infeções a ocorrer em trabalhadores agrícolas que simplesmente não estão a ser detetadas“.

A gripe aviária H5N1 tem-se propagado amplamente entre aves selvagens, aves de capoeira e outros animais em todo o mundo durante vários anos, e desde o início do ano passado tornou-se um problema em pessoas e vacas nos EUA.

Nos últimos 14 meses, foram reportadas infeções em 70 pessoas nos Estados Unidos — a maioria trabalhadores em explorações leiteiras e avícolas. A infeção causou a morte de uma pessoa, mas a maioria das pessoas infetadas teve doenças ligeiras.

A Califórnia, que registava 3/4 das infeções do país em gado leiteiro, foi até há pouco tempo um ponto crítico de infeção, mas os testes e casos entre pessoas diminuíram.

Segundo registos estatais, até ao fim de 2024, pelo menos 50 pessoas eram testadas mensalmente , mas apenas três pessoas foram testadas em março, uma em abril, e, até agora, nenhuma pessoa foi testada este mês. O estado confirmou até agora infeções por H5N1 em 38 pessoas — nenhuma após 14 de janeiro.

Porque é que os casos  diminuíram

Um funcionário do CDC citado pelo The Independent observa que há uma sazonalidade na gripe aviária: os casos atingem o pico no outono e início do inverno, possivelmente devido aos padrões de migração de aves selvagens ,que são os principais propagadores do vírus.

Isso poderia significar que os EUA estão a experimentar um declínio natural — talvez temporário — nos casos de gripe em aves.

Novas infeções continuam a ser detetadas em aves e gado, mas não com tanta frequência como há alguns meses. Além disso, o sistema de monitorização de vírus em esgotos e águas residuais tem mostrado recentemente atividade viral limitada.

“Dado que o número de deteções em animais diminuiu, de acordo com os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, não é surpreendente que os casos humanos também tenham diminuído,” afirmou o CDC num comunicado citado pelo The Independent.

É improvável que uma infeção humana grave, que requeira hospitalização, passe despercebida, diz Michael Osterholm, especialista em doenças infeciosas da Universidade de Minnesota.

Gregory Gray, especialista em doenças infeciosas da Universidade do Texas, considera provável que pelo menos algumas infeções mais leves não estejam a ser detetadas. O investigador receia que o esforço para identificar estas infeções esteja a diminuir.

O CDC considera baixo o risco de infeção por H5N1 para o público em geral, embora seja mais elevado para pessoas que trabalham com gado e aves de capoeira, ou que estejam em contacto com aves selvagens.

No início deste mês, uma avaliação da agência governamental de prevenção de doenças concluiu que há um “risco moderado” de que as estirpes de gripe aviária atualmente em circulação possam causar uma futura pandemia.

O CDC sublinha no entanto que outras estirpes emergentes de gripe aviária foram no passado rotuladas de forma semelhante, sem que tivessem originado uma pandemia.

ZAP //

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