Em Buenos Aires, capital da Argentina, a tradição manda que a pizza seja degustada com um acompanhamento especial: uma cobertura extra chamada fainá, uma panqueca de grão-de-bico, feita apenas com farinha de grão-de-bico, água, óleo, sal e pimenta.
De acordo com a BBC, a pizza a caballo (“pizza a cavalo”, em tradução livre), acompanhada por fainá, foi desenvolvida em bairros de migrantes italianos da classe trabalhadora, provavelmente no início do século XX.
Carina Perticone, semióloga e antropóloga que investiga representações literárias da comida local na Universidade Nacional das Artes, na Argentina, referiu que a receita de fainá chegou ao território pelas mãos dos imigrantes do norte de Itália, ainda no século XIX.
Em italiano, esta panqueca de grão-de-bico é conhecida como farinata (a palavra farina significa “farinha”), e o nome “fainá” deriva do dialeto genovês.
Provavelmente, nunca se saberá com precisão o motivo que levou os cidadãos de Buenos Aires a começarem a comer fainá em cima da pizza. Perticone sugere, contudo, que poderia ter sido uma forma prática de os trabalhadores apressados se alimentarem em viagem.
Além disso, o grão-de-bico era uma fonte barata de proteína para a classe trabalhadora que nem sempre tinha acesso à carne, acrescentou Francesca Capelli, sociolinguista do Instituto de Investigação da Escola de Línguas Modernas da Universidade de Salvador.
Uma coisa é certa: em Itália, seria impensável ingerir tal combinação, apesar de o par “casar” bastante bem, uma vez que a textura subtil e cremosa do fainá suaviza a acidez do molho de tomate e modera o sabor oleoso do queijo.
Atualmente, variantes criativas de fainá estão a ganhar espaço nos bares e restaurantes de toda a cidade. As cebolas são uma adição popular e tipicamente argentina, de acordo com Perticone, mas alguns restaurantes servem-nas com coberturas de pizza e até recheios, como presunto e pimentos.