Polícia do Rio de Janeiro matou cinco pessoas por dia em 2019

Fernando Frazão / Agência Brasil

A polícia do Rio de Janeiro matou 1.810 pessoas em 2019, um recorde de cinco mortes por dia e um aumento de 18% em relação ao ano anterior, informou o Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, no Brasil.

Os números também mostravam que os homicídios intencionais (excluindo violência policial) caíram 19%, com 3.995 casos, contra 4.950 em 2018, avançou a agência Lusa.

Os dados correspondem ao primeiro ano de mandato do novo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, eleito em grande parte devido ao seu alinhamento com a política de segurança que defende uso da violência para combater o crime do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

Witzel recomendou notavelmente, ao assumir o cargo, o uso de atiradores de elite para alvejar à distância suspeitos equipados com armas em comunidades pobres do estado.

“Quando vemos que a polícia é responsável por mais de um terço das mortes violentas, isso mostra como nosso modelo de segurança é marcado pela violência policial”, explicou Silvia Ramos, especialista do Centro de Pesquisa em Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes.

A investigadora lamentou: “No Rio de Janeiro, grandes operações das polícias tornaram-se nos últimos anos a principal forma de intervenção. É uma política baseada em confronto e insuficiente em inteligência e planeamento”.

Sebastiao Moreira / EPA

Silvia Ramos também é responsável pelo Observatório da Segurança, que analisou as operações da polícia realizadas no estado mais emblemático do Brasil nos últimos anos. Essas operações destinadas a entrar nas favelas para prender suspeitos de tráfico de drogas são grandes, com o uso de veículos blindados e, muitas vezes, de helicópteros.

Em 2019, o Observatório de Segurança analisou 1.296 operações, nas quais 387 pessoas foram mortas, ou seja, cerca de uma morte em cada três operações.

Os números mostram, no entanto, que o número de pessoas mortas pela polícia diminuiu gradualmente durante a segunda metade do ano (196 em julho, 173 em agosto, 154 em setembro, 144 em outubro, 135 em novembro e 124 em dezembro).

Segundo Silvia Ramos, o governador Witzel “iniciou seu mandato com um discurso muito agressivo, mas os efeitos colaterais, especialmente as crianças mortas por balas perdidas, tiveram tanto impacto que ele teve que mudar de rumo”. A investigadora citou o caso de uma menina chamada Agatha, de oito anos, morta dentro de um veículo numa favela em setembro passado, um drama que chocou o país.

Os dados do ISP também mostram que o número de roubos caiu, principalmente de veículos (-23%) e carga de camiões (-19%).

Lusa //

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