Como surgiram as borboletas? Mistério com 100 milhões de anos foi resolvido

Imperial College London

A pesquisa descobriu que as borboletas apareceram inicialmente na América do Norte e na América Central.

Um novo estudo publicado na Nature Ecology & Evolution resolveu o mistério sobre onde apareceram as primeira borboletas e as plantas com que se alimentavam.

Há cerca de 100 milhões de anos, um grupo de traças começou a aventurar-se durante o dia, aproveitando as flores abundantes em néctar que apareceram nas imediações das abelhas. Esta situação originou a evolução de todas as espécies de borboletas, escreve o SciTech Daily.

Desde 2019, análises ao ADN indicaram a altura precisa em que esta mudança aconteceu, desmentindo a teoria anterior que sugeria que o aparecimento das borboletas teria sido causado pela pressão dos morcegos, após a extinção dos dinossauros.

Agora, também já sabemos onde as borboletas apareceram e o que comiam, graças à maior árvore da vida das borboletas do mundo, que foi criada com o ADN de mais de 2000 espécies. Foi com estes dados que os investigadores conseguiram acompanhar os movimentos e hábitos alimentares das borboletas ao longo do tempo num puzzle de quatro dimensões, até chegarem à América do Norte e Central.

“Este era um sonho de infância meu. É algo que eu queria fazer desde que visitei o Museu Americano de História Natural quando era criança e vi uma foto da filogenia de uma borboleta colada na porta de um curador. É também o estudo mais difícil do qual já participei e exigiu um esforço enorme de pessoas de todo o mundo para ser concluído”, explica Akito Kawahara, autor principal do estudo.

Há cerca de 19 mil espécies de borboletas e, antes deste estudo, não existia um sítio único onde os cientistas podiam aceder a informações sobre todas elas. Para combater isto, os cientistas decidiram criar a sua própria base de dados pública, após traduzirem informações de livros, sites e coleções de museus em várias línguas.

A pesquisa recorreu ainda a 11 fósseis de borboletas, que raramente são preservadas no registo fóssil. Os resultados mostram que as borboletas apareceram pela primeira vez na América Central e no oeste da América do Norte. Na altura, a América da Norte e do Sul estavam separadas por uma extensa via marítima, com o atual México unidos aos Estados Unidos, Canadá e Rússia.

Apesar de a América do Norte ainda estar ligada à do Sul, as borboletas tiveram pouca dificuldade em cruzar o estreito entre elas. No entanto, a chegada a África foi bastante mais demorada, mesmo com a proximidade à América do Sul. As borboletas foram primeiro para a Ásia, estendendo-se para o sudeste asiático, o Médio Oriente e só depois chegaram ao corno de África. Chegaram depois à Índia, que na altura era uma ilha isolada.

A sua chegada à Austrália foi ainda mais surpreendente, que na altura ainda estava ligada à Antártida. É possível que as borboletas tenham vivido na Antártida quando as temperaturas eram mais quentes, tendo a partir daí chegado à Austrália.

Já a migração para a Europa só deverá ter acontecido 45 milhões de anos depois de as borboletas chegarem à Ásia ocidental. Até aos dias de hoje, a Europa tem poucas borboletas em comparação com outras partes do mundo.

Relativamente à sua planta de eleição, a escolha parece ter sido a planta do feijão. “Observamos essa associação numa escala de tempo evolutiva e, em praticamente todas as famílias de borboletas, os feijões tornaram-se os hospedeiros ancestrais”, remata Kawahara.

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