Já 100 comandantes de bombeiros terão pedido a escusa de responsabilidade, contestando o risco de serem acusados criminalmente por problemas que dizem não ser culpa sua. O Governo deve travar os pedidos.
Cerca de 100 comandantes de bombeiros pediram esta terça-feira escusa de responsabilidade em caso de incêndios florestais, seguindo a sugestão da Liga dos Bombeiros Portugueses, que contestou o julgamento de um comandante por causa dos incêndios em Pedrógão Grande.
O pedido dos comandantes surge assim para evitarem problemas com a justiça caso haja uma nova tragédia e perante “a impossibilidade de dar cumprimento” ao que está estabelecido no Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR), nas palavras da Liga.
“Esta opção, previamente anunciada pela Liga dos Bombeiros Portugueses, não apresenta qualquer histórico e exigiu, pela sua sensibilidade e complexidade, o desencadeamento de um maturado processo de análise, quer do ponto de vista jurídico, quer operacional, o qual deverá estar concluído a muito breve trecho“, refere a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) numa nota para a Lusa, em que adianta que até ao momento, recebeu já cerca de 70 pedidos.
Em causa estão 63 crimes de homicídio e 44 de ofensa à integridade física. Augusto Arnaut, comandante dos bombeiros de Pedrógão Grande, só vai conhecer a decisão final a 13 de Setembro, avança o Correio da Manhã.
O mesmo jornal adianta que o Governo vai travar o avanço dos pedidos de escusa de responsabilidade. António Nunes, presidente da Liga, avança que mesmo que o pedido não seja atendido, os bombeiros vão continuar na luta e que não sabe “qual é o argumento” para a recusa.
Nunes pediu também na segunda-feira audiências com o primeiro-ministro, o Presidente da República, a Ministra e o Secretário de Estado da Saúde e com o presidente da Proteção Civil.
“Nenhum bombeiro vai recusar combater um incêndio ou salvar pessoas em risco. Os portugueses podem contar connosco, como sempre contaram. Agora, os comandantes não podem ser responsabilizados por falhas nos meios pelos quais não são responsáveis”, contestou António Nunes.
O líder dos bombeiros acrescenta que os profissionais estão abertos às negociações. “Queremos ser parte da solução, queremos negociar, estamos de boa-fé. Mas não vamos ceder naquilo que consideramos uma tremenda injustiça”, remata.
À TSF, António Nunes mostra-se também preocupado com os efeitos que os encerramentos das urgências têm tido no socorro e nos constrangimentos de ambulâncias das corporações.
“Desafiámos já o Ministério da Saúde a fazer um plano prévio de utilização de viaturas e, além de uma reunião que tivemos com o Ministério da Saúde, já tivemos uma reunião com o INEM e já tivemos uma reunião com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo. Até ao momento ainda não conseguimos desbloquear essa situação”, afirma.
Depois temos outro problema: a intermitência da informação não permite que os bombeiros tenham planeamento, porque tão depressa está a urgência aberta, como encerrada, e abre às 08h00 e depois fecha às 16h00, às 18h00 ou às 20h00. Cria-nos situações de verdadeiro desconforto operacional e isso reflete-se em quem nós servimos”, alerta.
ZAP // Lusa
Acho escandaloso que se possa sentar no banco dos réus homens que põem a sua vida em perigo para salvar os outros e que de um momento para o outro se vêm acusados e responsabilizados por mortes das quais não tiveram qualquer culpa! O que está a passar-se com este comandante de Pedrógão é verdadeiramente humilhante! Quem é que pode ser responsabilizado por um incêndio que tomou proporções gigantescas absolutamente incontroláveis ? Apenas quem permitiu o plantio intensivo de eucaliptos não tendo em conta a forma perfeitamente selvagem como esta árvore se propaga ignorando qualquer espécie de controlo e ardendo como se de um barril de pólvora se tratasse! E agora lá estão eles de novo prontos a condenar qualquer bombeiro! Quem é que tem responsabilidades pela falta de ordenamento do território? São os bombeiros? Quem é que se põe de joelhos perante a exigência feita pelos interesses instalados, neste caso o das celuloses? São os bombeiros? Enquanto portuguesa sinto uma profunda vergonha pela calúnia a que este homem está ser sujeito e pergunto ao sr.PR se, enquanto jurista pode pactuar com tal situação. Não basta tomar banho nas praias fluviais! É preciso não ficar indiferente a tais afrontas! E para quando uma condecoração condigna para o bombeiro de Castanheira de Pera que ficou impossibilitado de manter a família e a quem estão a ser dadas uma tristes migalhas?! Vale a pena ser bombeiro?!!