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Biotecnologia marinha cresce em Portugal: plano da expansão azul tem um motor escondido

A economia azul tem vindo a ser aposta do Governo desde a concessão milionária da InvestEU a pequenas e médias empresas. No entanto, a expansão da biotecnologia marinha no país ainda tem um longo caminho pela frente.

Em março de 2023, o instrumento de Economia Azul do InvestEU concedeu 28 milhões de euros para impulsionar a economia azul, direcionados especificamente a pequenas e médias empresas em Portugal e Espanha.

O financiamento é encarado como significativo e assinala um avanço no foco no desenvolvimento da indústria portuguesa de biotecnologia marinha doméstica — um esforço que já dura há cinco anos, segundo o World Bio Market Insights.

A economia azul refere-se a qualquer atividade económica dependente de mares e outras vias navegáveis. Embora permaneça em grande parte, no território luso, ligada à pesca e ao setor alimentício, o Governo demonstrou um interesse particular em desenvolver indústrias azuis de maior valor, incluindo a transformação de biorrecursos do mar em produtos químicos para setores como o farmacêutico.

Em colaboração com a União Europeia (UE), Portugal lançou uma série de políticas em 2019 para estimular a “inovação sustentável” em torno dos biorrecursos marinhos. Uma das estratégias passa por incentivar a criação de mais aceleradoras no país para apoiar startups que depositam os seus esforços na biotecnologia marinha.

O acelerador da estratégia para o crescimento azul

A aceleradora de economia azul mais afamada em Portugal, a Blue Bio Value, tem sido fundamental no apoio a startups de biotecnologia marinha ao procurar empresas que desenvolvam produtos bio-sustentáveis a partir de recursos marinhos.

Apoiada por várias organizações, incluindo a MAZE — uma empresa de investimento de impacto — e a BluebioAlliance — uma ONG portuguesa que promove a indústria de biotecnologia azul —, a Blue Bio Value recebeu em, 2022, 84 candidaturas de 39 países.

A cada ano, a aceleradora seleciona entradas excecionais, concedendo-lhes 45 mil euros para gastar na Blue Demo Network da BlueBio Alliance. Este apoio dá às startups acesso às infraestruturas e serviços relacionados à bioeconomia azul de Portugal.

Entre os vencedores anteriores estão empresas como a Exogenous Therapeutics de Portugal — que transforma subprodutos industriais do processamento de microalgas em soluções de saúde — e a Sophie’s BioNutrients da Holanda, que produz proteínas vegetais a partir de microalgas.

A visão do governo português para a bioeconomia azul também inclui a construção de infraestruturas para empresas de biotecnologia marinha.

Instalações de prototipagem e um “biobanco” com recursos genéticos para biotecnólogos fazem parte desta visão, com o foco na construção de uma bioindústria em torno de algas e micróbios marinhos a ser, também, uma das metas.

Graças ao esforço de aceleradoras como a Blue Bio Value, ao crescente financiamento, e à colaboração internacional, Portugal posiciona-se entre os gigantes da biotecnologia marinha.

Mas o compromisso de Portugal com a economia azul não é caso único.

Ainda é só o começo

Países como Quénia, Vietname, China e Costa Rica também estão a implementar cada vez mais programas de “crescimento azul”, uma expansão que, no entanto, também levanta preocupações. Um espaço natural subdesenvolvido pode degradar-se facilmente e há limites sobre o quanto pode ser removido dos ecossistemas oceânicos de forma sustentável.

Os esforços de Portugal na promoção do crescimento azul simbolizam um movimento progressivo para explorar o potencial económico dos mares e oceanos, enfatizando a sustentabilidade e a inovação. No entanto, à medida que a biotecnologia marinha evolui, são necessárias avaliações contínuas para garantir que o crescimento não se dê às custas do equilíbrio ecológico.

Como outras indústrias emergentes, a biotecnologia marinha exige apoio político, regulação e um compromisso com a sustentabilidade para prosperar a longo prazo. O investimento de 28 milhões de euros em março de 2023 é um marco significativo, mas faz parte de uma maior e mais complexa paisagem que exige atenção, tanto para a oportunidade económica quanto para a administração ambiental.

ZAP //

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