“Berço de ouro” não valia de nada. Bebés da família real espanhola tinham os dias contados

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(CC0/PD) Wikimedia

“La familia de Felipe V”, quadro de Louis-Michel van Loo.

A Casa de Bourbon governava o país, mas os camponeses espanhóis tinham uma mortalidade infantil menor do que a família real espanhola. A razão? Consanguinidade.

Quando uma pessoa nasce com grandes heranças, rica antes mesmo de saber o que é dinheiro, diz-se que nasceu num berço de ouro. Para qualquer membro de uma família real, poderá dizer-se sem dúvidas que é este o caso.

No entanto, para a Casa de Bourbon, cujos descendentes atualmente atualmente governam a monarquia espanhola e luxemburguesa, isto não se aplicava.

Durante o século XIX e início do século XX, a consanguinidade em casamentos era a norma na realeza. Foi precisamente a consanguinidade que expulsou a anterior dinastia do trono de Espanha. Antes dos Bourbon, eram os Habsburgo que reinavam o país de nuestros hermanos.

Aliás, durante séculos, a família Habsburgo governou grande parte da Europa central e ficou marcada por muitos dos seus membros partilharem uma mandíbula grande e saliente, conhecida como a “mandíbula de Habsburgo”.

Um estudo de 2019 revelou que esta característica proeminente terá sido provavelmente o resultado da consanguinidade geracional. Durante mais de 200 anos, as famílias da Áustria e de Espanha casaram-se entre si, garantindo o seu nome e poder em grande parte do continente.

Depois da morte do último monarca da dinastia Habsburgo espanhola, Carlos II, em 1700, gerou-se uma crise de sucessão. Carlos II não teve filhos e não deixou um herdeiro claro, o que levou a uma disputa de sucessão entre várias famílias reais europeias. Isso resultou na Guerra da Sucessão Espanhola, que acabou com a vitória da Casa de Bourbon.

A consanguinidade foi um fator que contribuiu para a fraqueza da dinastia em Espanha. Ela levou a uma concentração de doenças genéticas e deficiências físicas em membros da dinastia, como é o caso da mandíbula.

Nos Habsburgo, a consanguinidade resultou numa série de doenças genéticas, como a hemofilia, a osteoporose, a hirsutismo — o crescimento excessivo de pelos —, além de problemas de saúde mental como a depressão e a esquizofrenia.

“Apesar do facto que essas pessoas, naquela altura, estavam entre as mais mimadas da Terra, elas sofreram uma taxa de mortalidade infantil superior à das famílias camponesas espanholas”, escreve o jornalista de ciência Carl Zimmer no seu mais recente livro.

Daniel Costa, ZAP //

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1 Comment

  1. O mesmo aconteceu com a família real portuguesa, onde a mortalidade infantil no fim da 2ª dinastia era elevadíssima. Veja-se o exemplo da Rainha D. Catarina da Austria e de seu marido D. João III, que apesar de terem tido nove filhos, quase todos morreram muito pequenos e os dois que chegaram à vida adulta, morreram antes dos pais. Foram os avós de D. Sebastião. Era comum as infantas portuguesas casarem com reis de Espanha e as infantas de Espanha casarem com reis portugueses, havendo todas as gerações trocas de princesas na fronteira. O certo é que as duas casas reais acabariam por se extinguir por falta de herdeiros, sendo reerguidas por ramos mais distantes da família. No caso de Espanha, pelos Bourbons (aparentados com os Habsburgos através de casamentos; Filipe IV, o primeiro rei Bourbon, embora neto de Luís XIV, era também neto de Maria Teresa de Espanha, irmã do último Rei espanhol, Carlos II). Em Portugal, pelos Bragança, descendentes de D. João I e que mantiveram a ligação à família real através de casamentos entre as duas famílias. Esta tradição da troca de princesas entre Espanha e Portugal manteve-se nos séculos XVIII e XIX.

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