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É uma prática comum dos atletas – mas será verdade que os banhos de gelo ajudam os músculos?

Anthony Joshua / Instagram

Banho de gelo do boxer Anthony Joshua

Os banhos de gelo trazem benefícios para atletas que treinem a resistência, mas podem ser prejudiciais para quem se dedica a treinar a força.

É uma prática recorrente entre os atletas e até entre pessoas comuns que são entusiastas do desporto quando sentem dores musculares – mas será que é verdade que ficar entre cinco a dez minutos num banho de gelo ajuda a acelerar a recuperação dos músculos e a melhorar a performance atlética?

Segundo avança a especialista em fisiologia muscular ouvida pelo Science Alert, Johanna Lanner, o arrefecimento “reduz a transmissão de impulsos nervos e por isso reduz o nível da percepção de dor” e também “induz a constrição dos vasos sanguíneos nos tecidos periféricos, o que resulta numa redução da difusão do fluído que pode assistir na redução na inflamação aguda incutida pelo exercício”.

Lanner refere também que os banhos de gelo são eficazes na redução da “dor e da rigidez sentida nos músculos entre várias horas e dias (habitualmente entre 24 e 72 horas) depois de um exercício exigente ou a que não se está acostumado”.

Já Llion Roberts, especialista em fisiologia do exercício, refere que a “imersão em água fria também ajuda a restaurar a variabilidade da frequência cardíaca, a variação no período de milisegundos entre batimentos cardíacos sucessivos”.

Para além do efeito físico, os banhos de gelo também têm um efeito psicológico. Uma experiência do especialista em fisiologia do exercício James Broatch comparou os efeitos de um banho de gelo com uma condição de placebo que os participantes achavam que teria a mesma eficácia.

Os participantes da condição de placebo receberam um banho quente com aquilo que achavam que era um óleo especial que ajudava à recuperação muscular, mas que era na verdade apenas um gel de limpeza da pele.

Apesar disto, Broacth revela que os “participantes tanto no banho de gelo como nas condições de placebo avaliaram a sua crença nos benefícios da recuperação de forma semelhante, o que se traduziu numa recuperação da força da extensão das pernas parecida num período de 48 horas após o exercício físico”.

O gelo ajuda a melhorar a performance atlética?

Mesmo com todos estes benefícios, os banhos de gelo podem nem sempre ajudar a melhorar as capacidades atléticas dos desportistas e em certos casos, podem até ser prejudiciais.

Um dos problemas na medição do efeito na performance atlética é que há muitos tipos diferentes de exercício. No caso de treinos para a força, Llion Roberts afirma que a imersão em água gelada “pode até prejudicar os benefícios do exercício” devido às “grandes reduções nos resultados desejados, como o aumento da força e da massa muscular”.

“Isto foi provavelmente um resultado da água gelada interferir negativamente com a proteína natural e com as respostas celulares que acontecem no músculo depois de cada sessão de treino para a força”, explica.

Já os efeitos nos treinos para a resistência podem ser bastante diferentes. “Há provas que sugerem que o arrefecimento no músculo exercitado aumenta o sinal celular que liga a biogénese mitocondrial“, explica Christopher Mawhinney, especialista em ciência do desporto.

A biogénese mitocondrial acontece quando as células aumentam os seus números de mitocôndrias, que são as estruturas que libertam a energia, e é um dos efeitos positivos do treino da resistência que pode ser amplificado com o recurso a banhos de gelo.

Assim, o recomendado é usar banhos de gelo depois de treinos de força apenas em circunstâncias especiais, como grandes eventos desportivos. Já no caso de atletas que treinem a resistência, a prática traz mais benefícios.

Adriana Peixoto, ZAP //

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