Um novo estudo sugere que a mesma bactéria responsável pela acne, a Cutibacterium acnes, pode também ajudar a prevenir a caspa.
A caspa é normalmente causada por um crescimento excessivo do fungo Malassezia restricta, que perturba o processo natural de renovação da pele. Isto leva à acumulação de células da pele no couro cabeludo, formando aquilo que conhecemos como caspa.
Os tratamentos atuais envolvem frequentemente produtos químicos que visam e matam o M. restricta. No entanto, estes tratamentos apenas oferecem um alívio temporário, sendo que a caspa regressa frequentemente assim que o tratamento é interrompido.
À procura de uma solução mais duradoura, os investigadores concentraram-se em repor o microbioma do couro cabeludo.
O seu estudo envolveu 65 voluntários, 32 dos quais sofriam de caspa. Todos os participantes utilizaram o mesmo champô durante três semanas para eliminar os efeitos de tratamentos anteriores. Após este período de eliminação, os investigadores analisaram a composição microbiana dos folículos pilosos e do couro cabeludo.
Curiosamente, a espécie mais abundante no microbioma do couro cabeludo dos participantes sem caspa era a Cutibacterium acnes. Esta bactéria, conhecida pelo seu papel no acne, produz ácido propiónico, que parece inibir o crescimento de M. restricta. Em contrapartida, as pessoas com caspa tinham microbiomas dominados por vários fungos do género Malassezia.
De acordo com a New Scientist, os investigadores verificaram também que os microbiomas do couro cabeludo e dos folículos pilosos dos indivíduos eram semelhantes, o que sugere que as bactérias têm origem nos folículos pilosos e se propagam para o couro cabeludo. Isto forneceu a base para uma nova abordagem de tratamento centrada no restabelecimento do equilíbrio natural do microbioma do couro cabeludo.
Numa experiência subsequente, parcialmente financiada pela L’Oréal, os investigadores testaram um novo tratamento em 57 pessoas com caspa moderada a grave. Alguns participantes utilizaram uma loção com ácido propiónico juntamente com o seu champô habitual, duas a três vezes por semana, durante 28 dias, enquanto outros utilizaram uma loção de controlo.
A aplicação de ácido propiónico ajudou a restabelecer o equilíbrio da comunidade microbiana no couro cabeludo, levando a uma redução dos sintomas da caspa. Os investigadores concluíram que a abordagem do desequilíbrio microbiano é crucial para uma solução duradoura para a caspa.
“A aplicação de ácido propiónico faz pender a balança para o C. acnes”, explicou Yousuf Mohammed, da Universidade de Queensland, na Austrália. “Ao quebrar o ciclo no ponto certo, a taxa de crescimento dos fungos pode ser controlada”.
“É espantoso como a natureza funciona. A C. acnes desempenha um papel crucial na manutenção de folículos capilares saudáveis, mas em determinadas condições, como poros obstruídos, torna-se uma bactéria patogénica que causa acne”, acrescentou.