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As semanas da moda servem para alguma coisa?

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Farrukh / Flickr

Modelo em desfile na Semana da Moda de Londres

Semana da Moda em Milão fez regressar várias perguntas. As pessoas compram o que é apresentado nos desfiles? Depende.

A Semana da Moda em Milão decorre nesta semana. É um dos maiores eventos do género em todo o planeta, apenas comparada com as semanas da moda em Nova Iorque, Londres e Paris.

Os desfiles de moda começaram oficialmente em 1943, em Nova Iorque. Embora a origem seja mais antiga, no final do século XIX, com Charles Frederick Worth: o costureiro britânico pedia à sua esposa para realizar uma passagem de modelos – porque, melhor do que um manequim, uma pessoa apresenta uma noção mais próxima do resultado final.

Os primeiros desfiles foram realizados em caves de lojas. Ou aí, ou em salões de grandes marcas. E só as mulheres muito ricas tinham direito a assistir ao espectáculo.

“Ser modelo não era sinónimo de glamour. Até era uma profissão sombria“, resume o editor de moda David Devriendt, ao jornal Het Laatste Nieuws.

Até que apareceu Paris. Mais espaço, mais luz, mais pessoas, maior divulgação. Isto pelos anos 60 e 70 no século passado, passando realmente a grandes espectáculos a partir dos anos 80.

Muita concorrência, muita preparação e até uma disputa entre Paris e Nova Iorque, para ver quem tinha as melhores peças.

Não são as roupas que dão lucro

Mas hoje, em 2022, como estão as Semanas da Moda?

Continua a ser um evento que envolve muito dinheiro. E, numa era tão digital, um desfile milionário de 30 minutos faz sentido?

“Esses milhões não são gastos apenas para dar prazer aos espectadores. Servem para dar visibilidade à marca. Imagens de desfiles circulam por todo o mundo e são usadas durante toda a temporada por jornalistas em artigos de moda”, respondeu David Devriendt.

O editor avisou que as peças de alta costura exibidas nos desfiles raramente são vendidas. Só algumas celebridades ou clientes muito ricos compram as roupas.

No entanto, não são as roupas apresentadas nos desfiles que geram mais dinheiro, até porque várias peças nunca chegam a ser replicadas; só têm um exemplar – aquele que é apresentado nas Semanas da Moda – e por isso nunca entram em fase de produção, nem são vendidas em loja.

“Se analisarmos o modelo de receita das marcas, veremos que elas ganham mais com acessórios e perfumes. A pessoa «média» compra fragrâncias, carteiras ou brincos. Na verdade, devemos olhar para esses desfiles de moda como um grande outdoor da marca, separado das roupas“, explicou o especialista.

“Mas é muito baixa a probabilidade de encontrarmos na rua uma peça de um desfile de moda“, completou.

Futuro dos eventos

Por causa da COVID-19, houve muitos desfiles que, não sendo cancelados, passaram a realizar-se à distância. As modelos e os modelos continuaram a desfilar mas sem público por perto.

Exibições à distância, online, serão o futuro? “A passarela tem uma vibração única e interactiva – e isso não pode ser substituído por um vídeo. Os números durante a pandemia mostraram isso”, respondeu David.

Além disso, o que se passa durante a Semana da Moda mas fora da passarela também é importante: “O estilo, os influenciadores que marcam presença, são parte essencial das Semanas de Moda. Muitas revistas escrevem principalmente, ou exclusivamente, sobre isso. E os designers geralmente fornecem roupas do desfile aos influenciadores, para estes usarem. Levam o desfile para fora do local do evento”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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