As baleias já andaram (sim, andaram) ao longo da costa da América do Norte

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Figura da baleia extinta Phiomicetus, a atacar um peixe-serra

A descoberta de fósseis cada vez maiores está a ajudar os investigadores a compreender como é que as primeiras baleias chegaram ao continente americano.

Em 1973, o paleontólogo Peter Harmatuk encontrou um dente desconhecido na rocha de uma pedreira perto do Castelo Hayne, na Carolina do Norte.

Segundo a Smithsonian, na altura, a identidade do dente não era clara e apenas foi possível averiguar que pertencia a um mamífero.

Em janeiro de 2021, Mark Uhen, paleontólogo da Universidade George Mason, e o seu colega Mauricio Peredo publicaram um estudo sobre este assunto.

O dente parecia ter pertencido a um grupo de baleias gigantes chamadas remingtonocetids. Eram semelhantes a uma lontra de grandes dimensões com um focinho bastante longo.

Estas criaturas eram capazes de atravessar as ondas, bem como caminhar ao longo de praias arenosas.

As baleias são conhecidas como criaturas do mar, mas, de alguma forma, as baleias-foca conseguiram chegar à costa da antiga América do Norte, vindas do sul da Ásia.

“Pensa-se que os remingonocetidis são animais costeiros”, afirma Uhen, mais como as focas e leões marinhos modernos.

Em vez de nadarem pelo antigo Atlântico, podem ter gradualmente expandido o seu alcance desde o seu local de origem, perto do antigo Paquistão e Índia, até à Eurásia, acabando por atravessar uma distância muito mais curta até ao norte da América do Norte, possivelmente no que é agora o Canadá, deslocando-se depois para sul.

Saber quais os percursos realizados por estas baleias é ainda complicado. Os vestígios geológicos sobre a rota costeira que a baleia terrestre seguiu podem ter-se perdido devido à degradação provocada pelo tempo.

“Sem dúvida que ainda há várias baleias semi-aquáticas por descobrir e identificar na América do Norte”, nota Uhen.

Os fósseis são relativamente raros e difíceis de encontrar, mas estão lá. A formação rochosa de onde veio o dente, por exemplo, também deixou os restos de um protótipo de Crenatocetus e de baleias totalmente aquáticas chamadas Pachycetus e Cynthiacetus, todas elas com nomes designados desde 1990.

Os investigadores continuam a descobrir novas espécies raras de baleias primitivas, muitas vezes em locais inesperados.

Muitas baleias primitivas não estavam tão intimamente ligadas à terra como se pensava anteriormente, e descobertas como a reminiscência da Carolina do Norte estão a demonstrar como uma diversidade de baleias anfíbias foi capaz de se espalhar por todo o mundo.

Desde meados do século XIX, os paleontólogos têm tentado compreender como é que as baleias começaram por viver em terra, para acabarem a fixar-se no mar.

Os fósseis que explicam esta transição não existem em abundância, mas são a única forma de os investigadores conseguirem descobrir qual a origem das baleias. Mas isso mudou na década de 1970.

A descoberta de uma baleia com cerca de 55 milhões de anos chamada Pakicetus ajudou a centrar a atenção dos paleontólogos no Paquistão, Índia e Egipto. Depois disso, foram encontrados cada vez mais fósseis de baleias primitivas.

Ainda este ano, Abdullah Gohar, paleontólogo da Universidade de Mansoura, identificaram uma nova baleia precoce, Phiomicetus anubis, do Egipto.

Diferentes espécies de baleias primitivas sobrepuseram-se no tempo e no espaço, realça Gohar, apontando o Phiomicetus como apenas um exemplo.

A baleia vivia ao mesmo tempo que outra baleia semelhante à lontra chamada Rayanistes e, segundo Gohar, os dentes afiados da Phiomicetus podem ter dado origem a outros tipos de baleias.

Diversidade de espécies primitivas

As primeiras espécies de baleias não apareceram uma após a outra. Representavam uma família inteira que proliferava perto da água, antes de as baleias se tornarem totalmente marinhas.

As zonas costeiras pré-históricas da América do Norte também desempenham um papel crucial na história.

Durante o século XIX, os escravos negros descobriram fósseis gigantes na zona sul. Estes fósseis foram mais tarde identificados por paleontólogos nos Estados Unidos e Inglaterra, embora os investigadores nem sempre soubessem imediatamente para onde estavam a olhar.

O investigador Richard Harlan, por exemplo, pensava que alguns destes vestígios pertenciam a um enorme lagarto aquático, e nomeou-os Basilosaurus — que significa “lagarto rei”.

O investigador Richard Owen reconheceu depois que a criatura era um mamífero e provavelmente uma baleia fóssil gigante.

Os fósseis representavam animais com cerca de 20 metros de comprimento, o maior mamífero que já viveu, até as famílias modernas de baleias começarem a evoluir.

E o Basilosaurus não estava sozinho. Os paleontólogos estão agora a aperceber-se de que havia uma maior diversidade de baleias primitivas na América do Norte do que anteriormente esperavam.

Há milhões de anos, as baleias também caminhavam ao longo da costa da antiga Geórgia. As praias do Peach State moderno, há cerca de 40 milhões de anos atrás,  eram habitadas por um mamífero caricato que caminhava ao longo da costa, com uma figura semelhante a um crocodilo grande e peludo.

Os paleontólogos conhecem este animal como Georgiacetus, uma das primeiras baleias, cujos fósseis têm ajudado especialistas a explorar a forma como passaram de mamíferos anfíbios para os marinhos que conhecemos hoje.

Tal como Phiomicetus, a criatura pertenceu a um antigo grupo de protocetídeos que representam o ponto de viragem na evolução das baleias.

Identificado em 1998, Georgiacetus assemelha-se a outras baleias encontradas no norte de África, Ásia, e, como um achado recente elucidado, na América do Sul.

A baleia era mais anfíbia e mantinha membros posteriores funcionais que permitiram ao mamífero andar em terra.

O facto de o Georgiacetus ter aparecido na América do Norte indica que as baleias eram capazes de nadar através de oceanos inteiros, como o antigo Atlântico, mesmo antes de se adaptarem completamente à vida no mar. “Os protocetídeos são considerados os primeiros cetáceos que conquistaram os oceanos”, revela Gohar.

Por terra ou por mar, as primeiras baleias movimentavam-se entre continentes e faziam mais parte dos antepassados da Terra, do que aquilo que os paleontólogos esperavam anteriormente.

Desenterrar novas informações sobre as baleias primitivas não é apenas acrescentar novas espécies à crescente lista de espécies fósseis.

O facto de as primeiras baleias continuarem a aparecer em locais inesperados indica que algumas eram provavelmente mais hábeis na água do que se supunha.

Por mar ou pela costa, as baleias começaram a mover-se cada vez mais rapidamente, mas sempre com as suas vidas ligadas à água.

Não é claro onde irão aparecer os próximos vestígios mas, dadas as descobertas surpreendentes das últimas três décadas, as baleias fósseis irão certamente continuar a fazer ondas.

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