O arroz dourado prometia salvar vidas. Greenpeace trava agora a sua plantação

Numa decisão controversa, um tribunal das Filipinas bloqueou a plantação da cultura geneticamente modificada Golden Rice, uma medida que os cientistas alertam poder ter consequências terríveis.

Desenvolvido para combater a deficiência de vitamina A – uma das principais causas de deficiência e morte entre as crianças -, o Golden Rice (arroz dourado, em português) foi aprovado para cultivo comercial nas Filipinas em 2021, tornando-se o primeiro país a fazê-lo.

No entanto, campanhas lideradas pela Greenpeace e por agricultores locais conseguiram persuadir o tribunal a anular esta aprovação, argumentando que o Golden Rice não foi provado ser seguro.

De acordo com o The Guardian, a decisão do tribunal, saudada pela Greenpeace como “uma vitória monumental”, foi recebida com forte oposição da comunidade científica, que argumenta que a cultura não só é segura como também pode salvar vidas.

“A decisão do tribunal é uma catástrofe”, argumenta Matin Qaim, professor da Universidade de Bona e membro do Conselho Humanitário do Golden Rice. “Vai completamente contra a ciência, que não encontrou nenhuma evidência de qualquer risco associado ao Golden Rice, e resultará na morte de milhares e milhares de crianças”.

O governo das Filipinas e os peritos planeiam contestar a decisão, na esperança de uma eventual reviravolta. No entanto, o revés pode ter repercussões significativas. Países como a Índia e o Bangladesh, onde a deficiência de vitamina A é prevalecente, poderão reconsiderar os seus planos de cultivar o Golden Rice devido à decisão do tribunal.

“A situação é extremamente alarmante”, defendeu também Adrian Dubock, outro membro do Conselho Humanitário do Golden Rice. “A plantação do Golden Rice não estava a ser feita com fins lucrativos. Ninguém estava a tentar controlar o que os agricultores cultivam ou o que as pessoas comem. Estava a ser feito para salvar vidas”.

A deficiência de vitamina A é um grave problema de saúde nos países em desenvolvimento, conduzindo a uma elevada morbilidade e mortalidade por infeções na infância e sendo a principal causa evitável de cegueira infantil, de acordo com a OMS. As estimativas sugerem que mais de 100 mil crianças morrem todos os anos por deficiência de vitamina A.

Em resposta a esta crise, Peter Beyer e Ingo Potrykus começaram a trabalhar na década de 90 para modificar geneticamente o arroz de modo a produzir beta-caroteno, um precursor da vitamina A. Isto levou à criação do Golden Rice, que demonstrou ser uma fonte eficaz de vitamina A.

Apesar dos seus benefícios demonstrados e da sua aprovação em países como os EUA, a Austrália e a Nova Zelândia, o Golden Rice tem enfrentado uma oposição persistente por parte de grupos ambientalistas, atrasando o seu cultivo comercial.

Em 2016, mais de 150 laureados com o Prémio Nobel assinaram uma carta aberta criticando a Greenpeace por se opor ao Golden Rice e a outras culturas geneticamente modificadas. Os especialistas argumentaram que a Greenpeace tinha “deturpado os riscos, os benefícios e os impactos” das plantas geneticamente alteradas.

A Greenpeace, contudo, mantém-se firme na sua posição. “Há problemas específicos com o Golden Rice”, defende Wilhelmina Pelegrina, diretora da Greenpeace Filipinas.

Os agricultores locais estão preocupados com o facto de as suas variedades tradicionais de arroz poderem ser comprometidas pelo arroz geneticamente modificado, o que poderia afetar as suas certificações e o seu valor de mercado.

Pelegrina também referiu os riscos de se confiar num sistema de cultura única, que poderia reduzir a resiliência agrícola e aumentar a vulnerabilidade aos impactos climáticos.

ZAP //

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