Uma equipa internacional de arqueólogos descobriu a bimah – uma plataforma central de oração -, da Grande Sinagoga de Vilna, na Lituânia. A sinagoga judaica foi destruída pelos nazis, mas ainda restaram vestígios no interior da congregação. O espaço renasce agora pelas mãos dos arqueólogos.
A descoberta é fruto do culminar de um projeto de 3 anos que tinha como objetivo escavar o antigo local, conhecido como a “Grande Sinagoga de Vilna”, apelido atribuído com base no nome antigo da cidade de Vilnius, a capital da Lituânia.
Os nazis destruíram muitas sinagogas judaicas durante a Segunda Guerra Mundial no entanto, a destruição da Grande Sinagoga de Vilna representou uma enorme perda. Durante centenas de anos – entre 1600 a 1940 – esta sinagoga funcionou como centro espiritual da comunidade judaica em Vilnius, explicou Jon Seligman, o arqueólogo que lidera as escavações.
A sinagoga foi queimada durante a ocupação nazi, que decorreu entre 1941 e 1944, quando a maioria das dezenas de milhares de judeus que viviam em Vilnius foram assassinados, conta o arqueólogo.
Depois da Segunda Guerra Mundial, quando a Lituânia fazia parte da União Soviética, a sinagoga em ruínas foi nivelada e depois reconstruida, funcionando primeiro como uma creche e depois como uma escola primária. Nos últimos anos, os arqueólogos estudaram o local com um georadar, na esperança de descobrir e estudar os remanescentes da famosa sinagoga.
E o projeto acabou por se mostrar um sucesso: durante as escavações, os investigadores encontraram a bimah da Grande Sinagoga, juntamente com alguns dos ladrilhos que cercam a plataforma, numa parte da estrutura que estava enterrada sob o escritório do diretor da escola, apontou Seligman.
A bimah era uma plataforma elevada no centro do edifício sagrado em forma de quadrado, onde eram lidas em voz alta passagens da Torá, o livro sagrado judaico.
Segundo Seligman, os congregantes teriam ficado maravilhados com esta estrutura. A bimah foi construída com tijolos verdes e castanhos, ao estilo do “barroco da Toscana”, muito popular na época em que foi construída a Grande Sinagoga, na década de 1630.
“Jerusalém do Norte”
O povo judeu começou a deslocar-se para Vilnius no século XIV, quando o rei da Lituânia lhes deu permissão para viver lá. Os arqueólogos estão agora a escavar o local que a comunidade judaica da cidade usou como sinagoga desde 1440.
Inicialmente, todos os edifícios da cidade eram construídos em madeira, incluindo a sinagoga. No entanto, em 1600, arquitetos oriunda de Itália e da Alemanha foram levados para a cidade de Vilnius para reconstruir toda a cidade em tijolo. Foi também nessa altura que a Grande Sinagoga foi construída.
Durante o século XVII, Vilnius atraiu muitos escritores e eruditos falantes de iídiche – língua germânica das comunidades judaicas da Europa Central e Ocidental -, o que deu à cidade o apelido de “Jerusalém do Norte”, disse Seligman.
As primeiras autoridades cristãs da Lituânia podem ter ajudado, mesmo sem saber, a proteger as partes inferiores da sinagoga da destruição completa no século XX.
“As autoridades exigiram que a sinagoga não fosse mais alta do que que as igrejas da cidade”, disse Seligman. Desta forma, o piso da Grande Sinagoga foi construído abaixo do nível do solo, permitindo assim que os arquitetos maximizassem a altura da câmara central para o interior sem quebrar a restrição imposta.
Esta característica na construção ajudou, por sua vez, a proteger os níveis inferiores da sinagoga, quando o espaço foi incendiado pelos nazis em 1941 e também na reconstrução da escola levada a cabo pelas autoridades soviéticas em meados dos anos 50.
O piso e a bimah da sinagoga foram encontrados a cerca de 3 metros abaixo do nível do solo, disse o líder da escavação.
Os 3 anos de escavações realizados no local da Grande Sinagoga em Vilnius contaram com a participação de arqueólogos lituanos, israelitas e norte-americanos. Os trabalhos arqueológicos foram pagos, na sua grande maioria, pelo Fundo Boa Vontade da Lituânia.
Segundo noticia a AFP, a bimah e os outros artefactos da Grande Sinagoga vão fazer parte de um memorial judaico a construir no local da antiga escola, fechada no ano passado.
“A escola será demolida dentro de dois anos e aí criaremos um local de respeito, onde vamos mostrar a rica herança judaica em 2023, quando Vilnius celebrar o seu 700º aniversário”, disse o presidente da cidade, Remigijus Simasius, em declarações à agência.
Seligman revelou ainda que outras partes da Grande Sinagoga encontradas nas recentes escavações incluíam dois banhos rituais, os mikvahs. E ainda há mais: os arqueólogos esperam localizar as paredes externas da sinagoga e escavar ao nível do solo, acrescentou.
ZAP // Live Science