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Anne d’Alègre
A famosa socialite francesa Anne d’Alègre usava um fio de ouro para segurar os seus dentes que abanavam.
Um novo estudo publicado na Journal of Archaeological Science relata a descoberta do segredo bem guardado durante 400 anos de uma aristocrata francesa do século XVII para cuidar dos seus dentes.
De acordo com a pesquisa, Anne d’Alègre, que morreu em 1619 e cujo corpo foi descoberto em 1988, usava fio de ouro para impedir que os seus dentes caíssem. Embalsamada num caixão de chumbo, o seu esqueleto – e dentes – ficaram notavelmente bem preservados.
Na época da descoberto do esqueleto, os arqueólogos perceberam que ela tinha uma prótese dentária, mas não tinham ferramentas avançadas o suficiente para descobrir mais detalhes.
Agora, 35 anos depois, um grupo de arqueólogos e dentistas descobriu que a aristocrata sofria de uma doença periodontal que estava a fazer os seus dentes abanar e cair, escreve a AFP.
Um análise com raios-X para construir imagens tridimensionais mostrou que o fio de ouro foi usado para unir e apertar vários dos seus dentes. A mulher tinha ainda um dente artificial feito de marfim de elefante, contrariando a tendência na altura, quando o marfim de hipopótamo era o preferido.
J18-
Remplacement d’une incisive au XVIIe siècle pour Anne d’Alègre – Comtesse de Laval-France#prothèse #odontologie #incisive #soin #archéologie@RozennColleter @Inrap @INEE_CNRS @UT3PaulSabatier @GalibourgA pic.twitter.com/fcqw8pCzhZ— CAGToulouse (@CagToulouse) December 18, 2022
Apesar de todo este engenho, os fios de ouros só agravaram a condição de Anne d’Alègre, já que teriam de ser apertados ao longo dos anos, o que destabilizava ainda mais os dentes vizinhos.
As questões de saúde não terão sido as únicas motivações da aristocrata, já que havia uma enorme pressão e julgamento sobre a aparência das mulheres, que podia determinar o seu estatuto social.
Rozenn Colleter, arqueóloga e autora principal do estudo, frisa que esta pressão era ainda maior no caso de d’Alègre, dado que era uma socialite “controversa” e que “não tinha uma boa reputação”. A cientista afirma ainda que os dentes de D’Alegre “mostra que ela passou por muito stress”.
E não é caso para menos. D’Alègre era protestante e lutou nas guerras religiosas francesas contra os católicos no final do século XVI. Aos 21 anos, ficou viúva pela primeira já com um filho pequeno.
Quando o país mergulhou na Oitava Guerra Religiosa, D’Alegre e o filho foram forçados a esconder-se das forças católicas enquanto as suas propriedades eram confiscadas pelo rei. O seu filho acabou por se converter ao catolicismo e foi lutar na Hungria, morrendo em batalha aos 20 anos.
Depois de ficar viúva pela segunda vez, D’Alègre morreu de uma doença aos 54 anos. Colleter espera que o novo estudo “ajude um pouco a reabilitá-la”.