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Apesar da sua dieta saudável, múmias inuítes com 500 anos morreram com artérias obstruídas

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Peabody Museum of Archeology and Ethnology / Harvard University

O peixe gordurento e outros alimentos ricos em ácidos gordos ômega-3 deveriam ajudar a proteger-nos de doenças cardíacas, por isso parece improvável que os antigos inuítes tivessem problemas de saúde cardiovascular.

No entanto, exames de quatro inuítes mumificados que morreram há 500 anos revelaram que tinham artérias bloqueadas, assim como milhões de pessoas atualmente.

Muitos dos hábitos não saudáveis associados aos estilos de vida modernos – como consumo excessivo de açúcar e pouco exercício físico – contribuíram para o aumento de doenças cardiovasculares, que agora é a principal causa de morte no mundo. Em particular, a aterosclerose, que envolve a acumulação de placas gordurosas nas artérias, tornou-se perigosamente prevalecente nos países mais ricos.

Em 2013, investigadores examinaram 137 múmias de civilizações antigas no Egito, no Peru e no Ártico e ficaram surpreendidos ao descobrir evidências de aterosclerose em indivíduos que viveram até 3100 a.C. No entanto, nenhuma das múmias envolvidas neste estudo consumiria uma dieta particularmente rica em ômega-3, motivo pelo qual os cientistas liderados pela Ascension Healthcare em Wisconsin decidiram examinar especificamente as múmias de inuítes.

Quatro múmias foram obtidas no Museu Peabody de Arqueologia e Etnologia, em Cambridge, Massachusetts, todas encontradas originalmente na ilha de Uunartaq, perto da Gronelândia, em 1929. Uma análise das características dentárias e esqueléticas revelou que os dois homens e as duas mulheres tinham entre 18 e 30 anos de idade quando morreram, enquanto as suas roupas e outros objetos encontrados nos seus túmulos sugerem que viveram no século XVI.

De acordo com o estudo publicado em dezembro na revista científica JAMA Network Open, os cientistas explicaram que “os indivíduos teriam caçado de caiaques com lanças, arcos e flechas para a sua dieta de peixes, pássaros, mamíferos marinhos e renas“.

Apesar dessa dieta, as tomografias computadorizadas (TC) das múmias revelaram que três delas sofriam de ateroma calcificado, o que ocorre quando placas de material adiposo se acumulam nas artérias, causando endurecimento e estreitamento, restringindo o fluxo sanguíneo.

As placas eram notavelmente semelhantes às vistas em seres humanos modernos, e que regularmente levam a ataques cardíacos e derrames fatais, impedindo o fluxo sanguíneo ao redor do coração e do cérebro.

Não se sabe se isto contribuiu para a morte dos inuítes, embora o próprio facto de sofrerem de aterosclerose, apesar da sua dieta com peixe e estilo de vida vigoroso, ponha em dúvida as suposições de que o estilo de vida moderno seja responsável pela condição.

Os fatores que levaram à prevalência de aterosclerose nesta antiga população também são desconhecidos, embora os autores do estudo sugiram que possa ter sido causado pela inalação de fumo excessiva de incêndios em ambientes fechados.

ZAP //

 

10 Comments

  1. Pois claro! Porque o culpado pela aterosclerose não são as gorduras ingeridas!
    O colesterol e o cálcio são usados pelo corpo como que um penso na ferida, quando o endotélio é ferido, sofre microarranhões, por sua vez sofre uma microhemorragia, causados por diversas razões, sendo que a inflamação como resposta a um processo autoimune, aliado à falta de vitamina C, tem sido apontada como a mais provável.

    Carbohidratos são os principais culpados pela subida excessiva do colesterol, não são as gorduras. Párem de demonizar as gorduras!!! Farinhas e açúcares (e leite de vaca também!), deixem de comê-las e verão grande parte dos vossos problemas resolvidos. Não acreditem em mim, testem e comprovem vocês mesmos.

    • Concordo plenamente com você. Parei de consumir açúcar e farinhas brancas no meu dia a dia e os meus exames clínicos estão ótimos! Também prático exercícios diários. Tenho 53 anos e estou em plena forma, melhor que aos 30 quando era acima do peso, sedentária e comia porcaria!

  2. Caro Jo, com todo o respeito, permita-me discordar do que diz.
    O artigo vem contrariar o que diz no seu comentário, os inuítes tinham uma dieta muito baixa em hidratos de carbono, comiam quase só a base de peixe e carne de foca, estaria próximo do que hoje se diz “paleo” embora o paleo inclua muitos vegetais que os inuítes não comiam é certo. O que está errado é o artigo chamar a este tipo de alimentação de “dieta saudável” que de saudável não tem nada e a prova está no resultado.
    Veja antes o tipo de alimentação das “blue zones” em que a aterosclerose é rara, o ponto comum é a baixa ingestão de produtos de origem animal (e portanto de gorduras) sendo que a base da alimentação é de origem vegetal, hidratos de carbono não refinados. Há que distinguir de que tipo de hidratos de carbono estamos a falar, tanto o pão branco de forma como a batata doce são hidratos de carbono, mas são totalmente diferentes nos seus efeitos no que diz respeito à saúde humana.

    • Só a título de curiosidade,…
      As populações que têm uma alimentação a que hoje chamamos ‘saudável’, como por exemplo os povos autóctones das regiões tropicais e equatoriais, que vivem em florestas húmidas e se alimentam, quase exclusivamente, de vegetais (85%) e proteína animal de baixo teor em gorduras (10%), apresentam desempenhos de saúde e longevidade idênticos aos das populações setentrionais de Enuits.
      Para os brincalhões da ciência que andam a empandeirar em arco com as ‘nouvelles vagues’ de vegeans e outros ‘desmiolados’ deveriam ter algum respeito quando falam de ciência, e preocuparem-se em estudar para poder falar de ‘toda’ a ciência das matérias abordadas e não apenas a parte da ciência que suporta esta ou aquela filosofia de que são adeptos.

      • Thomas, será a alimentação nos trópicos baseada em vegetais essencialmente ricos em hidratos de carbono? E demasiado pobre em proteína, em vitaminas…? Com óleo de palma e de côco talvez. Nunca ouvi que esta fosse a alimentação a que chamamos saudável. Poucas verduras e bastantes hidratos, enfim.
        Além de outras realidades a nível de doenças e higiene.
        É que não tenho ideia que por lá se comam bastantes couves com feijão, regadas com azeite.
        Mas como não sou conhecedor dos hábitos alimentares dessas zonas, admito estar errado e tenho interesse.

      • Quando menciono ‘povos autóctones’ estou a referir-me a populações em estado de desenvolvimento proto tribal, como os que se encontram ainda em algumas (poucas) regiões como a Amazónia ou as Florestas do Bornéu ou Samatra.
        Não à população do Congo ou da indonésia.

  3. “por sua vez sofre uma microhemorragia, causados por diversas razões, sendo que a inflamação como resposta a um processo autoimune, aliado à falta de vitamina C, tem sido apontada como a mais provável.” – possível causa dos inuítes.

    “Carbohidratos são os principais culpados pela subida excessiva do colesterol, não são as gorduras. Párem de demonizar as gorduras!!!” – referia-me à dieta moderna, com a pressa de escrever, não me expliquei bem.
    Tem toda a razão. Há que saber distinguir os alimentos e os tipos de carbohidratos que existem. Batata doce tem um indice glicémico bem mais baixo que a batata branca.

    Muita coisa fica por explicar… pois este é um tema muito extenso. E já para não falar que quase tudo o que demos como certo sobre alimentação, está na verdade errado. Pirâmide (antes roda) dos alimentos toda errada.

  4. Sempre usei os esquimós como o exemplo de alimentação “não saudável” pelos padrões atuais. Ao contrário do que parece transparecer da notícia, a dieta não é à base de peixe (embora seja um componente importante) mas o consumo de gordura de mamíferos (focas, belugas, morsas, narvais, etc.) é um elemento principal. Com tanta gordura animal é óbvio que placas de gordura nas artérias devem aparecer!

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