Aparelhos auditivos podem reduzir o risco de demência

Danie Franco / Unsplash

Entre os adultos mais velhos, a perda auditiva e a demência são ambas altamente prevalecentes e pensa-se que estejam relacionadas. Num novo estudo, uma equipa de investigadores internacionais tentou determinar como os dois estão ligados.

Prevê-se que, até 2050, a demência irá afetar 150 milhões de pessoas em todo o mundo. A perda auditiva igual ou superior a 20 dB afeta 10% das pessoas com 40 a 69 anos, 30% das pessoas com mais de 65, e 70% a 90% das pessoas com 85 ou mais anos. Para o contexto, o sussurro ouvido a 1,5 metros de distância produz um som de 20 dB.

Um estudo anterior já havia demonstrado uma relação entre as duas condições, sugerindo que a perda de audição é um fator de risco para a demência. Um relatório da Comissão Lancet sobre a demência, divulgado em 2020, concluiu que a perda de audição pode estar ligada a 8% dos casos da doença a nível mundial.

Poucos estudos analisaram a relação entre a utilização de aparelhos auditivos e a demência. Numa nova investigação, uma equipa de investigadores internacionais examinou a relação entre o uso de aparelhos auditivos e a demência entre adultos de meia-idade e idosos.

As evidências têm demonstrado que audição pode ser o fator de risco impactante para a demência, mas a eficácia do uso de aparelhos auditivos na redução do risco de demência “tem permanecido pouco clara”, disse Dongshan Zhu, um dos autores do estudo, publicado recentemente na The Lancet Public Health e citado pelo New Atlas.

“O nosso estudo fornece as melhores provas até à data” e sugerem “que os aparelhos auditivos podem ser um tratamento minimamente invasivo e rentável para mitigar o potencial impacto da perda de audição na demência”, referiu.

Os investigadores utilizaram o Biobank do Reino Unido para analisar dados de 437.704 pessoas, com idades compreendidas entre os 40 e os 69 anos. Cerca de três quartos dos participantes não tinham perda de audição. Os restantes tinham alguma perda de audição e 11,7% utilizavam aparelhos auditivos.

Os investigadores descobriram que, em comparação com os participantes com audição normal, aqueles com perda auditiva que não utilizavam aparelhos auditivos tinham um risco acrescido de demência. Não encontraram um risco acrescido entre as pessoas com perda auditiva que utilizavam aparelhos auditivos.

Isto significa que as pessoas com perda auditiva que não utilizam aparelhos auditivos têm aproximadamente 1,7% de risco de demência, enquanto o risco para indivíduos com audição normal ou que utilizavam aparelhos auditivos era de 1,2%.

“Quase quatro quintos das pessoas com perda auditiva não usam aparelhos auditivos no Reino Unido. A perda de audição pode começar cedo, na casa dos 40, e há provas de que o declínio cognitivo gradual antes de um diagnóstico de demência pode durar 20 a 25 anos”, explicou Dongshan Zhu.

“As nossas descobertas sublinham a necessidade urgente da introdução precoce de aparelhos auditivos quando alguém começa a sofrer de deficiência auditiva”, continuou o investigador.

O estudo também examinou como outros fatores, tais como a solidão, o isolamento social e a depressão, podem ter impacto na relação entre a perda auditiva e a demência. Os dados sugerem que cerca de 8% da associação entre as duas condições poderia ser eliminada através da abordagem aos problemas psicossociais.

De acordo com os investigadores, isso indica que a diminuição do risco de demência vem sobretudo do uso de aparelhos auditivos e não de causas indiretas.

Apesar de o estudo ter algumas limitações, os investigadores consideram que as suas conclusões salientam a necessidade de um esforço de sensibilização da sociedade para a perda de audição e as suas potenciais ligações à demência, para além de aumentar o acesso aos aparelhos auditivos.

São necessárias mais investigações para determinar a ligação entre a perda de audição e a demência.

ZAP //

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