Cuidado com os antibióticos, cuidado com o intestino. Salvam vidas, mas podem causar danos irreparáveis na saúde.
Tomar antibióticos melhora a qualidade de vida de muita gente e, noutros casos, até salva mesmo a vida dos doentes.
Mas os antibióticos podem causar danos irreparáveis na saúde, sobretudo no intestino.
O reforço é dado pela gastrenterologista Carolina Palmela, no âmbito da Semana Mundial de Consciencialização Sobre o Uso de Antibióticos, promovida pela Organização Mundial de Saúde
Os antibióticos, mesmo quando são usados para tratar uma infeção não gastrointestinal, levam ao desequilíbrio dos microrganismos do intestino e a um potencial aumento de bactérias prejudiciais para a saúde.
Os efeitos perniciosos dos antibióticos no sistema gastrointestinal podem ser divididos em efeitos de curto e a médio-longo prazo, como diarreia (por alteração da microbiota intestinal) e disbiose intestinal. Quanto mais longo for o tratamento, maior é o risco de diarreia.
Os antibióticos eliminam grupos de bactérias benéficas – lactobacilos e bifidobactérias – e isso pode aumentar o número de bactérias patogénicas, como o Clostridioides difficile.
“Em função do doente, a diarreia pode aparecer precocemente, logo nos primeiros dias, impedindo o cumprimento do tratamento antibiótico, ou mais tarde, a partir do sexto, sétimo dia de terapêutica. Mesmo nos indivíduos que não desenvolvem diarreia com a toma de antibióticos, a maioria desenvolve disbiose (desequilíbrio) intestinal, que poderá levar a consequências importantes a médio-longo prazo”, explica a médica, em comunicado enviado ao ZAP.
Carolina Palmela apela ao uso correto dos antibióticos: utilizar só quando existe indicação – elevada suspeita ou confirmação de uma infeção bacteriana. E sem tomar mais ou durante mais tempo do que o indicado.
A maioria das infeções são virais, especialmente em crianças; e não é preciso tomar antibióticos.
Apesar dos avisos constantes – incluindo aqui no ZAP – a maioria das pessoas, e também os profissionais de saúde, não estão suficientemente alerta para a incidência da diarreia associada aos antibióticos e dos potenciais efeitos secundários a curto e longo prazo associados à disbiose intestinal, avisa a gastrenterologista.
E apenas 10-60% das prescrições de antibióticos se associam a prescrição conjunta de um probiótico. “No entanto, em Portugal, o consumo de antibióticos é alto e o consumo de probióticos é baixo”, alerta.
A diarreia associada à disbiose causada pela toma dos antibióticos impede frequentemente o doente de concluir o tratamento.
As alterações da microbiota intestinal “podem permanecer durante semanas após o término do antibiótico, havendo mesmo a possibilidade de um não retorno total à flora saudável que existia antes do tratamento”.