A estranha aparência dos grandes anéis de gelo no lago Baikal, no norte da Sibéria, confunde os cientistas desde que foram descobertos no início dos anos 2000. Porém, uma recente investigação pode ter conseguido explicá-los.
O lago Baikal, na ibéria, é um dos maiores e mais profundos lagos de água doce do mundo. É o lar de muitas variedades de peixes não vistas em nenhum outro lugar do mundo e até de uma população endémica de focas de água doce. Além disso, possui anéis de gelo estranhos, que foram vistos pela primeira vez no início dos anos 2000 através de imagens de satélite MODIS.
Quase 20 anos, uma investigação publicada no ano passado na revista científica Limnology and Oceanography oferece uma explicação plausível para os anéis que aparecem frequentemente durante o inverno: o movimento circular de água quente sob o gelo.
A forma do anel de gelo não é distinguível para um observador no chão. Os círculos são suficientemente grandes para só poderem ser vistos de aviões e satélites. As partes internas dos anéis são brilhantes, enquanto os perímetros externos são escuros onde o gelo é fino.
Os anéis tendem a ter cerca de cinco a sete quilómetros de diâmetro, enquanto o próprio perímetro externo escuro tem cerca de um quilometro de largura. Os anéis duram entre alguns dias a alguns meses durante o inverno siberiano.
De acordo com o Gizmodo, têm sido atribuídos numerosas causas aos anéis de gelo, desde efeitos atmosféricos e biológicos, fraudes e até atividade alienígena. Uma teoria popular sugere que os anéis de gelo se formem a partir do escape de metano que borbulha do fundo do lago. Porém, os anéis foram observados em partes rasas do lago, onde o escape desse gás é improvável.
Para resolver este mistério, os autores do novo estudo organizaram expedições ao lago Baikal durante os invernos de 2016 e 2017 e estudaram imagens de satélite de infravermelho térmico. A equipa fez buracos perto dos anéis de gelo, nos quais lançaram sensores para medir a temperatura da água em profundidades que chegavam a 200 metros. As medições foram realizadas duas vezes por inverno, uma em fevereiro e outra em março.
Em fevereiro de 2016, os investigadores detetaram um redemoinho – onde a água se move em um movimento circular – a uma profundidade de 45 metros sob um anel de gelo. A descoberta deu uma visão em primeira mão sobre as condições do gelo durante o estágio final da formação dos anéis de gelo.
Verificou-se que a água no redemoinho era cerca de 1ºC a 2ºC mais quente que a água ao redor e demorou cerca de três dias para o redemoinho fazer uma rotação completa.
Um ano depois, a equipa encontrou outro redemoinho, que migrou seis quilómetros da sua posição original até ao final de março. Nenhum anel de gelo foi visto em cima do redemoinho, provavelmente porque ainda não tinha passado tempo suficiente para se formar. Uma coisa semelhante foi descoberta em 2019, quando um anel se moveu nove quilómetros.
Estas descobertas levaram os investigadores a acreditar que os redemoinhos quentes são a principal causa dos anéis de gelo.
De acordo com o estudo, o desenvolvimento do anel de gelo começa no outono antes do lago ficar congelado. Os redemoinhos são formados por fluxos de água agitados pelo vento da Baía Barguzin até à região central do lago. Os cientistas suspeitam que um processo semelhante esteja a acontecer noutros lagos com anéis de gelo.
Serão necessários mais estudos para elucidar completamente a causa dos anéis de gelo, mas este estudo oferece uma explicação interessante.