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Análise de ADN antigo mostra que os gatos se domesticaram a si próprios

Marc d'Entremont / Flickr

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Um novo estudo direcionado a compreender os genes dos gatos sugere que, mesmo depois de os felinos participarem na nossa vida, o seu comportamento manteve-se praticamente inalterado durante milhares de anos.

Bem ao estilo felino, os gatos levaram o seu próprio tempo para decidir se deveriam ou não cair no colo dos humanos. Pelo menos é esta a conclusão de um novo estudo, que pretendia perceber a distribuição dos gatos domésticos: estes animais viveram durante milhares de anos ao lado das pessoas mesmo antes da sua domesticação.

Durante essa época, os seus genes pouco se modificaram relativamente aos gatos selvagens, além de terem manifestado uma mudança recente: as listas e as pintas distintivas do gato malhado.

Os investigadores analisaram o ADN de mais de 200 raças que viveram nos últimos nove mil anos, incluindo vestígios dos animais romanos, felinos egípcios mumificados e espécies selvagens africanas, mais recentes.

De acordo com o estudo, publicado na Nature Ecology & Evolution, foram duas as principais linhagens que contribuíram para o surgimento do gato doméstico que hoje conhecemos.

Distribuição dos gatos

Os antepassados mais antigos dos gatos domésticos já se espalhavam desde o sudoeste da Ásia até à Europa em 4.400 a.C. Os gatos provavelmente começaram a vaguear em torno das comunidades agrícolas, próximas ao Crescente Fértil há cerca de oito mil anos, onde estabeleceram um relacionamento mutualmente benéfico com os seres humanos pelo hábito de caçar roedores.

“Provavelmente foi assim que o primeiro encontro entre gatos e humanos aconteceu”, diz o co-autor do estudo, Claudio Ottoni, da Universidade de Leuven, na Bélgica. “Isso não significa que as pessoas os tenham capturado e os tenham mantido dentro de gaiolas. Foi quase como se os humanos tivessem aceite o facto de que os gatos se domesticavam a si próprios”, conclui.

Uma segunda linhagem, constituída por gatos africanos que dominaram o Egipto, espalhou-se pelo Mediterrâneo e na maior parte do Velho Mundo desde aproximadamente 1.500 a.C. Esse gato egípcio provavelmente tinha características sociáveis e mansas, criando afeto com os seres humanos.

Os resultados sugerem que os povos humanos pré-históricos provavelmente começaram a carregar os seus gatos ao longo de rotas comerciais e marítimas para controlar os roedores.

Prevalência dos malhados

Através da comparação de ADN de gatos ao longo da história, o estudo entrevê como o comportamento desses animais começou a modificar-se mesmo antes de os humanos terem decidido começar a transportá-los consigo ao redor do mundo, conta Ottoni.

Surpreendentemente, não foram encontradas distinções significativas entre gatos selvagens e domésticos em termos de composição genética. Uma das poucas características que permitem distingui-los é a marca de malhagem no pelo.

O estudo ilumina a questão sobre o surgimento tardio das marcas listadas ou manchadas nos pelos, que começaram a aparecer em gatos domesticados durante a Idade Média. O gene de um gato malhado remonta ao Império Otomano, no sudoeste da Ásia, e mais tarde tornou-se comum na Europa e na África.

No entanto, foi apenas no século XVIII que as marcas se tornaram comuns o suficiente para serem associadas aos gatos domésticos. No século XIX, criadores de felinos começaram a selecionar animais com características particulares e únicas para desenvolver raças diferentes.

Fofura felina

No geral, os gatos tornaram-se um companheiro doméstico dos humanos sem sofrerem grandes modificações, afirma Eva-Maria Geigl, geneticista especializada em evolução e co-autora do estudo. Os gatos domésticos sempre foram semelhantes aos selvagens, embora não tenham um comportamento solitário (lidam bem com humanos e também com outros gatos).

Isso contrasta com o comportamento dos cães, os primeiros animais domesticados, segundo Geigl. Os cães foram selecionados para desempenhar papéis específicos – o que nunca se aplicou aos gatos – e essa procura por traços particulares foi o que levou à diversificação dos cães nas muitas raças que vemos hoje.

“Acredito que não houve necessidade de sujeitar os gatos a tal processo de seleção, uma vez que não era necessário modificar nada neles”, diz a investigadora da universidade belga. “Eram perfeitos na sua própria maneira de ser”.

Embora nem todos os vejam com tanto carinho, os felinos estão entre os animais de estimação mais populares do mundo atual. Por exemplo, nos Estados Unidos, há 74 milhões de gatos a fazer a vida de alguém mais feliz.

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