Amostras com mais de 35 anos associam o HIV ao microbioma intestinal

Investigadores descobriram uma associação entre a coleção de bactérias no intestino de uma pessoa e a sua probabilidade de contrair HIV.

Os cientistas chegaram a esta conclusão ao analisar amostras de sangue e fezes recolhidas há mais de 35 anos.

Nessa altura, nos anos 80, a SIDA ainda era algo virtualmente desconhecido. A comunidade científica pouco sabia sobre a doença, verificando apenas que afetava principalmente homens que tinham relações sexuais contra outros homens.

Para procurar perceber mais sobre a doença, em 1983, os Estados Unidos financiaram um estudo. Conhecido como Multicenter AIDS Cohort Study, envolveu a participação de 5 mil homens gays e bissexuais.

A cada seis meses, os participantes recolhiam amostras de sangue, urina e fezes. Embora nenhum dos homens tivesse SIDA no início do estudo, alguns deles contraíram a doença entretanto.

As amostras dos pacientes que contraíram SIDA foram congeladas criogenicamente e armazenadas para investigação futura, escreve o portal FreeThink.

“Deixe-me dizer uma coisa, houve alguma pressão para deitar fora estas coisas”, disse Charles Rinaldo, professor de doenças infecciosas da Universidade de Pittsburgh, em declarações à Axios. “Custa muito dinheiro mantê-las por 35 anos. Eu fui uma das pessoas que disse ‘de jeito nenhum'”.

Estudos recentes têm mostrado que o microbioma intestinal pode afetar tudo, desde a estrutura do cérebro ao sucesso dos tratamentos contra o cancro. Por isso, Rinaldo e Shyamal Peddada decidiram perceber se havia uma eventual ligação com o HIV.

Os cientistas analisaram amostras de sangue e fezes de 265 participantes do Multicenter AIDS Cohort Study, sendo que 109 deles vieram a contrair a doença.

A equipa liderada por Rinaldo e Peddada descobriu que os homens que contraíram HIV tinham níveis mais altos de uma bactéria associada à inflamação no microbioma intestinal e níveis mais baixos de quatro bactérias associadas à resposta imunitária. 

Além disso, também tinham níveis mais altos de inflamação no sangue antes de contrair o HIV.

Aqueles com esses microbiomas desfavoráveis também viram a sua doença progredir para SIDA mais rapidamente do que os homens HIV-positivos com intestinos mais “normais”, explica o FreeThink.

Estes resultados sugerem que há uma eventual associação entre as bactérias no microbioma intestinal e a probabilidade de contrair HIV. Esta ligação pode ajudar na luta contra a SIDA e outras doenças.

“Se o microbioma intestinal influencia a suscetibilidade de uma pessoa ao HIV desta forma, pode estar a fazer o mesmo com outros patógenos, como a covid-19”, sublinhou Rinaldo.

Daniel Costa, ZAP //

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