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Alunos portugueses voltam a piorar. Os melhores a ler são os que não gostam de ler

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Pixabay

As crianças portuguesas do 4.º ano que assumiram não gostar de ler obtiveram melhores resultados do que as que disseram ter “gosto pela leitura”. São os resultados de um estudo internacional, feito durante a pandemia. Portugal surge a meio de uma tabela de 43 países.

Ter muitos livros em casa, os pais terem formação superior e pertencer a uma família de estatuto socioeconómico elevado são algumas das características habitualmente associadas ao sucesso académico dos alunos.

No entanto, o PIRLS 2021 (Progress in Internacional Reading Literacy Study) hoje divulgado mostra novas relações.

Os alunos portugueses do 4.º ano de escolaridade pioraram o desempenho na leitura entre 2016 e 2021, tendo baixado de uma média de 528 pontos para 520.

Além disso, o estudo internacional – que nos últimos 20 anos tem avaliado a literacia em leitura – revela que não existe uma associação positiva entre o índice “gosto pela leitura” e os resultados médios das crianças portuguesas nos testes.

Os alunos que disseram não gostar de ler tiveram melhores resultados do que os colegas que afirmaram que gostavam muito de ler.

Este resultado fez o ministro da Educação, João Costa, alertar para o modelo de ensino do Português e dos testes e provas nacionais, lembrando a história de um professor universitário de linguística que lamentava o facto de “o filho ter tido 18 valores no exame de Português sem nunca ter lido os Maias”.

Também a comissária do Plano Nacional de Leitura, Regina Duarte, defendeu que em vez de “ter alunos que sabem repetir fórmulas de livros” é preciso voltar a ter “alunos que sabem avaliar a informação, mesmo quando os textos ou as perguntas são colocadas de forma diferente”.

A comissária criticou um sistema que “torna os alunos muito competentes, mas os afasta do prazer de explorar livros de forma muito pessoal”.

Certo é que quem lê mais horas tem melhores resultados, mas são poucos os que ficam muito tempo agarrados a um livro, diz o PIRLS.

Quase metade dos alunos (48%) lê menos de 30 minutos por dia, sendo que as crianças portuguesas que se destacaram no PIRLS liam entre uma a duas horas diariamente.

Frequentar um colégio em vez de uma escola pública, ter quarto próprio e ligação à internet ou pais muito envolvidos na vida escolar também fizeram diferença nos resultados das provas realizadas no final do ano letivo de 2021, a mais de oito mil alunos portugueses do 4.º ano.

O estudo destacou ainda o efeito positivo de ter muitos livros em casa. No entanto, mais de metade dos alunos (62%) tem apenas entre 11 e 100 livros e há mesmo muitas crianças que têm menos de dez livros.

O PIRLS 2021 mostra que as capacidades de leitura e interpretação dos alunos portugueses do 4.º ano decresceram ligeiramente, entre 2016 e 2021, apesar de os resultados médios mostrarem uma pequena subida na tabela comparativa de países.

As crianças portuguesas surgem em 22.º lugar – mesmo a meio da tabela – numa lista de 43 países que participaram no Progress in Internacional Reading Literacy Study (PIRLS 2021), hoje divulgado pela agência independente International Association for the Evaluation of Educational Achievement (IEA).

Os resultados mostram que Portugal subiu ligeiramente em relação a 2016, quando ficou em 30.º lugar numa lista de 50 participantes.

Papel vs. Digital

Além das contingências de ter sido realizado durante a pandemia, o PIRLS 2021 marcou uma transição das provas em papel para o digital, sendo que em Portugal realizaram-se os dois modelos: 6.111 alunos fizeram provas digitais e outros 2.098 testes em papel.

No entanto, os resultados dos dois formatos revelaram realidades diferentes. As crianças que fizeram a prova em papel melhoraram ligeiramente em relação a 2016 (subida de três pontos), mas nas provas digitais os resultados médios baixaram oito pontos (numa escala de zero a mil).

Em declarações aos jornalistas, o ministro da Educação preferiu focar-se primeiro na “ligeira melhoria nos resultados da leitura em papel”.

“Estamos contentes com esta curva, voltámos a subir”, admitiu João Costa

Em Portugal, o PIRLS foi aplicado logo após o segundo confinamento e período de ensino a distância, que decorreu entre janeiro e março de 2021. O PIRLS realiza-se periodicamente de cinco em cinco anos.

O ministro reconheceu também o “pior desempenho nas provas em formato digital”, atribuindo parte das responsabilidades à forma como foi desenhada a prova: Foi feita uma “mera transposição” da prova em papel para o digital e não um teste de raiz, criticou João Costa.

Segundo o responsável, as provas digitais não permitiam, por exemplo, visualizar em simultâneo o texto e as perguntas, ao contrário do que acontece com as provas em papel.

O ministro garantiu que esta situação foi acautelada nas provas de aferição digitais, que começam hoje, uma vez que foram 100% pensadas para serem feitas no computador.

O ministro reconheceu que é preciso “continuar o trabalho de literacia digital para reforçar as competências digitais dos alunos” assim como é preciso “continuar a trabalhar, sobretudo, nos níveis de complexidade mais elevados” porque é onde residem as principais dificuldades dos alunos.

O relatório mostra que há mais alunos portugueses com melhores desempenhos nas provas em papel. A prova divide-se em quatro níveis de desempenho, que vai desde o “desempenho baixo”, passando pelo “Intermédio”, “Elevado” e “Avançado”.

Entre os alunos que fizeram as provas em papel, 40% dos alunos atingiram pelo menos o nível elevado e 9% alcançaram o nível avançado de desempenho.

Nas provas digitais, 36% dos alunos alcançaram pelo menos o nível elevado e 6% atingiram o nível avançado de desempenho.

ZAP // Lusa

6 Comments

  1. Vergonha para os professores, numa empresa se não produzirmos, semos postos na rua. Aqui devia ser a mesma coisa não há bons resultados rua! siga, outro que faça melhor.
    No privado isto não acontece, porque os professores têm interesse por mostrar bons resultados e que os alunos aprendam para a escola ter nome e continuarem a ter o seu posto garantido.

  2. Vergonha para os professores, numa empresa se não produzirmos, semos postos na rua. Aqui devia ser a mesma coisa não há bons resultados rua! siga, outro que faça melhor.
    No privado isto não acontece, porque os professores têm interesse por mostrar bons resultados e que os alunos aprendam para a escola ter nome e continuarem a ter o seu posto garantido!

  3. “Os melhores a ler são os que não gostam de ler!”
    Isto é o reflexo das nossas estatísticas.
    É só contradições!
    Alguém acredita naquilo que o Governo mexe?

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