Numa nova revisão da literatura, os investigadores lançaram dúvidas sobre a eficácia dos óculos de proteção contra luz azul, muitas vezes elogiados pelos seus potenciais benefícios para a saúde dos olhos, a qualidade do sono e o desempenho visual.
Os investigadores analisaram 17 estudos publicados em seis países diferentes, todos eles examinando a utilização de óculos que bloqueiam a luz azul. Estes estudos, com uma dimensão que varia entre cinco e 156 participantes, abrangeram períodos de menos de um dia a cinco semanas.
Apesar das alegações publicitárias generalizadas e das prescrições de profissionais de saúde ocular com base nos benefícios percebidos, a investigação não produziu provas conclusivas que apoiem as vantagens dos óculos de proteção contra a luz azul em termos de saúde ocular, qualidade do sono ou desempenho visual.
“Os resultados da nossa análise, com base nas melhores provas atuais disponíveis, mostram que as provas são inconclusivas e incertas para estas alegações. Os nossos resultados não apoiam a prescrição de lentes com filtro de luz azul para a população em geral. Estes resultados são relevantes para uma vasta gama de partes interessadas, incluindo profissionais de saúde ocular, pacientes, investigadores e a comunidade em geral”, disse a coautora do estudo, Laura Downie, citada pelo New Atlas.
O novo estudo foi publicado na Cochrane Database of Systematic Reviews.
Os investigadores reconheceram que, mesmo com a sua extensa revisão, é evidente a necessidade de estudos maiores e mais alargados para tirar conclusões definitivas sobre a eficácia destes óculos. Uma das principais limitações apontadas foi a ausência de períodos de acompanhamento suficientes nos estudos analisados, impedindo a avaliação dos impactos a longo prazo.
“São ainda necessários estudos de investigação clínica de grande dimensão e de alta qualidade, com um acompanhamento mais longo em populações mais diversificadas, para determinar mais claramente os potenciais efeitos das lentes de óculos com filtro de luz azul no desempenho visual, no sono e na saúde ocular”, disse o autor principal Sumeer Singh. “Estes estudos devem examinar se os resultados de eficácia e segurança variam entre diferentes grupos de pessoas que utilizam diferentes tipos de lentes”.
Singh sublinhou também o ceticismo em torno da eficácia dos óculos que bloqueiam a luz azul, observando que as fontes artificiais, como os ecrãs de computador, contribuem apenas com uma fração da luz azul em comparação com a luz natural do dia.
Além disso, estes óculos filtram normalmente cerca de 10-25% da luz azul, o que pode ter um impacto mínimo na perceção das cores. A filtragem de níveis mais elevados de luz azul exigiria lentes com uma tonalidade âmbar, influenciando ainda mais a forma como as cores são percecionadas.