Afinal, não é a preocupação com a saúde que leva os indivíduos a não consumirem tanto fast food

Investigadores sugerem que a nova descoberta seja usada na construção dos programas de combate à obesidade, com uma adaptação das mensagens.

A epidemia da obesidade provocada, entre outros fatores, pelo consumi de fast food, há muito que está identificada pelos cientistas norte-americanos, que tentam, juntamente com outros quadrantes da sociedade, combatê-la, promovendo um estilo de vida mais saudável. No entanto, um novo estudo científico publicado este mês aponta que a principal razão pela qual os habitantes dos Estados Unidos não comem fast food não é a preocupação com a saúde, mas sim o sentimento de culpa.

O estudo contou com a participação de 300 indivíduos, que responderam a um questionário online, através dos quais os investigadores conseguiram identificar os fatores-chave que diferenciaram as pessoas que se identificavam como consumidores regulares de fast food e as não regulares.

“Uma lacuna na pesquisa é que as razões para o não consumo de fast food são relativamente desconhecidas, principalmente quando não considerada a explicação de que se trata de alimentos pouco ricos em nutrientes, o que desencoraja o consumo” pode ler-se no estudo, liderado por Kiwon Lee, da Kent State University.

Apesar de a falta de qualidade nutricional ser certamente uma das justificações para o não consumo recorrente de fast food, esta é apenas uma das razões que passa pela mente dos indivíduos durante o processo de escolha, já que outros fatores são pesados.

Na pesquisa, foi pedido aos participantes que indicassem a importância que estes atribuíam a um conjunto de ítens relacionados com o fast food, nomeadamente valores funcionais (como a conveniente, o sabor ou a familiaridade) e emocionais (como o prazer), entre outras questões que exploravam consequências mais dramáticas, como o risco de intoxicação alimentar, os riscos para a saúde dos animais e o impacto do ambiente.

Fazendo uso de um conjunto de técnicas estatísticas para equilibrar e interpretar os dados recolhidos, os investigadores encontraram dois fatores discriminatórios que identificam os consumidores não regulares de fast food. O primeiro remete para uma tendência de consumir estes alimentos em situações acidentais, ou sejam as que surgem para lá do controlo humano, seja durante de viagens, falta de certos produtos em casa ou tempos de stress.

No entanto, é o segundo fator que mais distingue estes indivíduos no facto de evitarem o fast food, o qual tem que ver com que a culpa.

“Os consumidores não regulares podem caracterizar-se pela tendência de se sentirem culpados pelo consumo de fast food e de se sentirem realizados quando não consomem fast food”, explicam os investigadores. “Curiosamente, a insalubridade, que é frequentemente abordada como um grande problema de fast food e frequentemente assumida como uma razão principal para evitar a fast food, não teve influência na discriminação dos consumidores regulares e não regulares.”

Como tal, os investigadores notam que a pouca qualidade da comida e a má saúde que dela resulta não é, afinal, um fator importante, ou talvez suficiente, para evitar o consumo. Os autores também reconhecem que a amostra usada é relativamente pequena, pelo que apontam a necessidade de fazer mais estudos e pedem a relativização dos resultados.

Inicialmente, de forma a manterem a gestão das respostas, apenas inquiriram os participantes sobre o consumo de hambúrgueres e batatas fritas, apesar de os termos em que a pesquisa foi desenvolvida poderem ser alargados.

Finalmente, a equipa pretende passar a mensagem de que muitos dos programas de combate à obesidade podem passar a incorporar uma mensagem relacionada com a culpa que os indivíduos sentem após consumirem estes alimentos – uma visão que certamente muitos especialistas em saúde mental podem contestar.