Quanto mais as pessoas se envolvem na história de um personagem fictício, mais tendem a usar a mesma parte do cérebro para pensar sobre o personagem e sobre si mesmas.
Há histórias de ficção que nos fazem viajar e, ao contrário do que seria de esperar, este sentimento é muito mais real do que imaginávamos. Na verdade, existe um motivo biológico que nos faz perceber algumas histórias de ficção como se as vivêssemos em primeira mão.
Uma equipa de cientistas da Universidade Estadual do Ohio, nos EUA, decidiu analisar a série Game of Thrones devido ao fenómeno cultural que representa ao prender milhares de fãs na narrativa.
Para isso, 19 voluntários fizeram parte de um conjunto de experiências que tinham como objetivo determinar de que forma o cérebro se relacionava com a série da HBO.
Segundo o EurekAlert, os cientistas analisaram o cérebro dos participantes enquanto pensavam em si mesmos, em nove amigos e em nove personagens da série – Bronn, Catelyn Stark, Cersei Lannister, Davos Seaworth, Jaime Lannister, Jon Snow, Petyr Baelish, Sandor Clegane e Ygritte.
Os voluntários tiveram também de dizer com qual das personagens se sentiam mais próximos e qual tinham gostado mais. Depois disso, responderam a um questionário.
A equipa chegou à conclusão de que quanto maior for a afinidade com o personagem, mais fácil se torna concordar com o seu ponto de vista. “Pessoas com um alto nível de identificação de traços não são apenas absorvidas por uma história, como também são absorvidas por um personagem em particular”, explicou o investigador Timothy Broom.
Enquanto os cientistas analisavam a atividade cerebral, através de ressonâncias magnéticas, os participantes observaram uma série de nomes – deles próprios, de um dos seus nove amigos e de um dos nove personagens de GoT. Cada nome era acompanhado de uma característica, como solitário, triste ou confiável.
Os voluntários tinham de responder “sim” se considerassem que o traço descrevia a pessoa e “não” se achassem o contrário.
Como seria de esperar, a análise cerebral permitiu concluir que o nível de atividade numa área do cérebro conhecida como córtex pré-frontal medial ventral (vMPFC) era mais ativo quando as pessoas se avaliavam, menos ativo quando avaliavam os amigos e ainda menos ativo quando avaliavam as personagens de Game of Thrones.
Normalmente, esta área só é ativada em níveis elevados quando pensamos em nós mesmos. No entanto, no caso dos fãs, a atividade no vMPFC era semelhante tanto quando viam o seu nome, como quando viam o do seu personagem favorito.
Esta é a prova de que a ficção pode mesmo ter um grande impacto em algumas pessoas. O artigo científico foi publicado na Social Cognitive and Affective Neuroscience.