Os acidentes de automóvel são mais fatais para as mulheres. Agora sabemos porquê

Simon Yeo / Flickr

Os bonecos usados nos testes dos carros baseiam-se nos corpos masculinos

A não representação das mulheres nos testes de segurança feitos durante a projeção dos veículos tem consequências fatais para as suas vidas.

As mulheres têm 73% mais probabilidade do que os homens de ficarem gravemente feridas num acidente de viação com choque frontal, quase o dobro da probabilidade de ficarem presas nos destroços de um acidente de viação e 17% mais probabilidade de morrerem num acidente de viação.

Então, o que justifica esta discrepância face aos homens?

uma série de factores,com a principal responsabilidade a recair sobre os projetistas de veículos, que não têm em consideração as diferenças entre os físicos masculinos e femininos. Um estudo na Suécia, por exemplo, descobriu que as mulheres são mais propensas a lesões por golpes de chicote (whiplash cervical) porque os assentos dos automóveis não foram pensados para corpos mais leves.

“As mulheres são geralmente mais leves do que os homens, pelo que são projetadas para a frente mais rapidamente, e sujeitas a uma maior aceleração. Uma mulher é também atirada para a frente com mais força contra o cinto de segurança”, explicou Anna Carlsson, investigadora da Chalmers University of Technology, à Science Nordic.

“Os assentos devem ser menos rígidos, mais flexíveis. Quando um carro é atingido por trás, o encosto do banco atua como um trampolim e catapulta-nos para a frente. Por isso, gostaria de ver os encostos dos bancos mais almofadados, um pouco mais macios”.

Caroline Criado Perez, autora em 2019 do artigo “Invisible Women: Exposing the gender bias women face every day”, apontou que as mulheres tendem a sentar-se mais perto dos pedais do que os homens, por serem geralmente mais pequenas.

Tal é considerado uma condução “fora de posição” fora os critérios utilizados nos testes, não sendo também uma posição recomendada pelo fabricante. Sentar-se nesta posição, embora necessário para conduzir, tende a colocar a condutora em maior risco de lesões.

Tal como destaca o IFL Sciene, parte do problema é a forma como os automóveis são testados. Antes dos protótipos de teste de colisão, eram utilizados cadáveres humanos nos procedimentos.

Para além da distinção de lesões anteriores das sofridas nos testes, havia também um problema demográfico, na medida em que a maioria dos cadáveres fornecidos eram de homens mais velhos.

O início da utilização dos protótipos dos testes de colisão foi uma boa oportunidade para corrigir tal deficiência, mas também para incorporar outras (e mais diversas) formas corporais.

No entanto, este não foi o caminho percorrido, já que os dados atuais têm por base apenas figuras masculinas e as extrapolações são feitas a partir daí.

É verdade que existem protótipos de teste de colisão de crianças, mas os bonecos que representam corpos femininos são bonecos de homem aproximadamente do tamanho de adolescentes de 12 anos, com 149 centímetros de altura.

Os investigadores recomendaram o desenvolvimento de bonecos de teste de colisão femininos e a sua utilização como padrão durante os testes, a fim de tornar os carros mais seguros para as mulheres.

Os protótipos de teste de colisão de grávidas foram utilizados no passado, mas também precisam de ser incluídos nos testes de segurança a fim de melhorar a segurança, de acordo com os investigadores.

Estão a ser feitos esforços para reparar a disparidade. Por exemplo, um protótipo de teste de colisão feminino foi recentemente concebido por investigadores suecos.

A equipa espera que o boneco possa ser utilizado para aprender sobre as diferentes lesões — tais como uma pélvis partida — que acontecem de forma desproporcionada às mulheres envolvidas em acidentes de automóvel.

“Não se pode ter o mesmo dispositivo para testar um homem e uma mulher”, disse Christopher O’Connor, CEO do maior fabricante de bonecos de teste de colisão, à BBC. “Não vamos quebrar os ferimentos que estamos a ver hoje, a menos que coloquemos sensores para medir esses ferimentos”.

“Medindo essas lesões podemos então ter carros mais seguros com airbags mais seguros, com cintos de segurança mais seguros, com compartimentos de ocupantes mais seguros que permitem tamanhos diferentes”.

Por agora, continua a existir uma disparidade alarmante de ferimentos e fatalidades entre homens e mulheres, que só começamos a compreender.

ZAP //

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