Viver na Terra há quase 4 mil milhões de anos teria sido uma experiência incrivelmente quente, solitária e muito curta — com a ausência de oxigénio.
Agora, novas investigações sugerem que teria havido menos relâmpagos do que nos tempos modernos, segundo a Science Alert.
Este fator pode fazer a diferença nas hipóteses que sugerem que um raio pode ter estado envolvido no desencadear da vida mais precoce na Terra.
Se os relâmpagos fossem de facto menos comuns na Terra primitiva do que se pensava anteriormente, isso afetaria os cálculos.
Os investigadores examinaram como as descargas das faíscas que iniciam os raios se podem ter formado numa atmosfera densa em dióxido de carbono e azoto molecular, como se pensa agora que foi a atmosfera da Terra primordial.
“Basicamente, na atmosfera rica em azoto e carbono, são necessários campos elétricos mais fortes para iniciar uma descarga”, esclarece Christoph Köhn, físico da Universidade Técnica da Dinamarca.
As reações em cadeia de eletrões em aceleração e colisão, conhecidas como avalanches de eletrões, são cruciais para as descargas de faíscas, e a forma como os eletrões se comportam muda, dependendo das condições atmosféricas, que é de onde vem esta discrepância recentemente encontrada.
Para complicar, não se sabe exatamente como era a atmosfera da Terra primitiva. Os investigadores utilizaram a hipótese do dióxido de carbono e azoto apresentada pela primeira vez nos anos 90, pelo geocientista James Kasting.
Uma proposta mais antiga de Stanley Miller e Harold Urey, publicada em 1950, sugere que o metano e o amoníaco foram efetivamente dominantes na atmosfera, durante os primeiros mil milhões de anos da Terra.
Foram Miller e Urey os primeiros a apresentar a ideia dos raios que formam os blocos de construção da vida na Terra, através de experiências em frascos cheios de gás.
No entanto, nos últimos anos, o pensamento sobre a composição atmosférica da Terra primordial começou a mudar.
“As nossas simulações mostram que as descargas na versão Miller-Urey, em campos mais baixos do que na versão de Kasting e em parte na Terra Moderna, implicam que as descargas na atmosfera da Terra antiga podem ter sido mais desafiantes do que se pensava anteriormente”, escrevem os investigadores no novo estudo, publicado na Geophysical Research Letters, em fevereiro.
A conclusão a que a equipa chega é que o processo de produção e construção das moléculas prebióticas — a chave da vida —, através de relâmpagos, teria demorado mais tempo, se o estudo sobre a atmosfera da Terra antiga estivessem corretas.
Os investigadores não quantificam exatamente quanto tempo mais. Apenas criaram um modelo uma das primeiras fases do processo de formação do raio, e ainda há bastantes incógnitas.
No entanto, dizem que as variações “podem potencialmente fazer uma grande diferença” na frequência com que os relâmpagos atingem a Terra.
É necessária mais investigação, tal como expandir o âmbito da análise para incluir a totalidade do processo da faísca do raio e acrescentar mais modelos de química atmosférica.
“Se as descargas atmosféricas foram responsáveis pela produção de moléculas prebióticas, é importante ter uma boa compreensão teórica do que aconteceu”, refere Köhn. “A grande questão é: de onde vêm todas estas moléculas prebióticas?”