Proximidade a Putin não parece ameaçar eleição de Orbán, mesmo frente a uma oposição unida

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Patrick Seeger / EPA

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán

Analistas de política internacional apontam que o presidente húngaro terá jogado um “jogo duplo” ao concordar com as sanções decididas pela União Europeia, mas recusando-se a ir além delas.

À semelhança do que acontece nos restantes países europeus que terão eleições nos próximos meses, também na Hungria a votação de hoje, e a discussão que a antecedeu, foi dominada pela guerra na Ucrânia e, neste caso específico, da relação entre Viktor Orbán e Vladimir Putin. Mas ao contrário do que sucedeu com outros candidatos, como Marine Le Pen, em França, para o presidente húngaro tal não deverá resultar num mau resultado eleitoral.

Nos últimos dias, as sondagens davam-lhe cerca de 40% das intenções de voto, ao passo que a oposição unida não vai além dos 32%. Apesar dos 20% dos indecisos, a eleição será um autêntico passeio no parque para o líder do Fidesz, que tem do seu lado os media do país. Apesar da invasão à Ucrânia, estes nunca deixaram de ter uma linha favorável ao regime de Putin.

Talvez por isso, nota o Público, 43% dos apoiantes do partido afirmam que o conflito é justificado. Paralelamente, 55% dos eleitores gerais percepcionam-na como injustificada.

Segundo os analistas, o hábil presidente húngaro fez um autêntico “jogo duplo“. Por um lado, concordou com a maioria das sanções decididas pela União Europeia, mas recusou passos mais ousados, como a transferência de armamento para a Ucrânia ou sanções ao nível do setor energético. Desta forma, insiste na ideia que a Hungria permanece fora da guerra – a qual parece agradar à população.

Nem a união de seis partidos, desde a direita radical à esquerda, parece ameaçar o sucesso de Órban, que foi aumentando a sua vantagem ao longo da campanha, já que alguns dos tópicos que a oposição pretendia discutir no espaço público acabaram engolidos pela tormenta mediática da guerra. Outro passo em falso parece ter sido a declaração de Agnes Kunhalmni, socialista, que afirmou que a oposição não teria uma resposta à guerra muito diferente da do atual governo.

A opinião, emitida com o objetivo de negar a ideia difundida por Orbán de que a oposição iria arrastar o país para a guerra, foi rapidamente ampliada pelos media governamentais e usada a favor do seu candidato.

Segundo a mesma fonte, Péter Márki-Zay, candidato conservador, parecia ser o mais preparado para derrotar o atual presidente, mas acabou por não conseguir potenciar os seus pontos fortes, nomeadamente o diálogo com eleitores de fora das cidades. Muitas das questões que podiam interessar à população por estarem relacionadas com a presença russa no país, muitas vezes desrespeitando a independência do país, acabaram por não ser discutidos.

Direitos LGBT também serão votados

Hoje, os húngaros também votam num referendo sobre a chamada Lei de Proteção das Crianças, aprovada pelo Parlamento húngaro em junho do ano passado e questionada pela Comissão Europeia. Segundo a versão oficial, a lei tem como objetivo regular o bem-estar infantil e proteger as crianças de conteúdo sexualmente explícito e atos de pedofilia. No entanto, ativistas e a Comissão Europeia entendem que pode ser mais um mecanismo para limitar os direitos LGBT no país, uma bandeira do regime de Órban.

Úrsula von der Lyen classificou a lei como “uma vergonha“, cita o Observador. Na prática, os eleitores terão de responder às seguintes questões:

  • “Apoia o ensino da orientação sexual a menores em instituições de ensino público sem consentimento dos pais?”
  • “Apoia a promoção de terapia de mudança de sexo para crianças menores?”
  • “Apoia a exposição sem limites de crianças menores a conteúdo sexualmente explícito que pode afetar o seu desenvolvimento?”
  • “Apoia que seja mostrado conteúdo sobre mudança de sexo a menores?”

ZAP //

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