De louco para pragmático: a metamorfose de um presidente

3

Gala Abramovich/EPA

Javier Milei

Como se transforma um “louco” em presidente? Javier Milei, o recém-eleito Presidente argentino, está, de acordo com o especialista Patricio Giusto, nesse processo de transformação. Mas poderá um “louco” dar um bom presidente? “O resultado da gestão é o que vai definir se essa loucura é positiva ou negativa”.

Desde que foi eleito Presidente da Argentina, Javier Milei tem trocado posições ideológicas por técnicas, dogmas por pragmatismo e posturas extremistas por flexibilidade, abandonando algumas das radicais bandeiras de campanha, numa metamorfose que surpreende aliados e opositores.

“Essa metamorfose é consequência mais de uma necessidade do que de uma convicção. A realidade impõe pragmatismo. Daqui em diante, veremos um Milei muito mais moderado e sem espaço para posicionamentos ideológicos, em linha com o que a sociedade argentina e os principais atores internacionais esperam. Isso será crucial para o seu êxito durante este primeiro período tão difícil que o próprio Milei tem anunciado”, explica à Lusa o analista político Patricio Giusto.

“Os candidatos fazem campanha presidencial com as suas intenções transformadoras, mas depois de eleitos governam com os seus medos. Milei está a fazer o que fazem todos os presidentes: está a recuar nessa alta voltagem da campanha. Isso acalma o sistema e todos se tranquilizam”, explicou o especialista em opinião pública.

Nem todos os Presidentes foram assim. Os aliados Donald Trump e Jair Bolsonaro, por exemplo, cercaram-se de alas ideológicas que, até agora, não aparecem no gabinete ministerial de Milei.

“O que a sociedade argentina quer de Milei é que ele resolva o drama da inflação. Estão os que votaram em Milei porque é louco o suficiente para mudar o sistema e os que o repudiam por ser um louco. O resultado da gestão é o que vai definir se essa loucura é positiva ou negativa”, interpreta Giacobbe.

O próprio Javier Milei tenta explicar a metamorfose que surpreende o país: “Sempre fui uma pessoa pragmática. Eu encaro a Presidência como um trabalho. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para realizá-lo da melhor maneira possível. Há coisas que acrescentam na hora de atingir o objetivo e outras não. Logo, as que não acrescentam, ficam de lado. Eu tenho de resolver o problema da inflação. Precisamos voltar a crescer e que esse crescimento gere empregos de alta produtividade e melhores salários. Tudo aquilo que for um desvio desse objetivo, fica de lado”.

Milei tem advertido os argentinos que os próximos seis meses serão “duríssimos” porque “acabou o dinheiro”, obrigando o novo Governo a um “severo ajuste orçamental”, a partir da posse em 10 de dezembro, sem o qual “o país vai direto à hiperinflação”.

O Presidente eleito prevê, pelo menos, seis meses de uma recessão combinada com alta inflação, antes de começarem a aparecer os primeiros resultados da política de choque orçamental.

Milei está a mudar

No campo internacional, Javier Milei corrigiu asua  estremecida relação com o Papa Francisco, a quem tinha definido como “representante do maligno na Terra” e “imbecil que defende a justiça social”. Num telefonema, o Papa disse que visitaria a Argentina nos próximos meses, uma honra que não tiveram os Presidentes argentinos durante os últimos dez anos, devido à polarização política no país.

“Eu disse que Sua Santidade seria recebida com todas as honras de um chefe de Estado e do chefe espiritual dos argentinos porque o catolicismo é a religião maioritária na Argentina”, disse Milei, um ex-católico convertido ao judaísmo.

Depois de exaltar o aliado Donald Trump e de considerar Joe Biden um socialista, viajou até Washington para se reunir com o conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, braço direito de Biden, passando antes por Nova Iorque, onde se reuniu com o ex-Presidente Bill Clinton, democrata que Joe Biden ouve.

Também depois de chamar ao Presidente brasileiro, Lula da Silva, “comunista, ladrão e corrupto”, escreveu uma carta pessoal convida-o para cerimónia de posse, onde estará o rival de Lula e aliado de Milei, Jair Bolsonaro. A carta foi levada pessoalmente pela futura chanceler, Diana Mondino, numa inesperada viagem relâmpago a Brasília. O Brasil é o principal parceiro político e comercial da Argentina.

“Convidei Lula porque é do interesse dos argentinos. Eu posso ter as minhas preferências, mas tenho de dar prioridade ao bem-estar dos argentinos. Não posso desconhecer o papel de um sócio comercial da envergadura do Brasil. Isso não quer dizer, no entanto, que seja um aliado estratégico. Uma coisa é a questão comercial; outra, a política”, justificou Milei.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. Será que os possíveis bons governantes estão tendo de se travestir com a desfaçatez e a senilidade da esquerda e da direita apenas para ganhar eleições? Se sim, como fazer para identificar bons governantes em meio a tanta desfaçatez e senilidade?

  2. NEM TOMOU POSSE AINDA, E OS EFEITOS DA SUA ELEIÇÃO, QUE NÃO TEVE JEITO DE FRAUDAR À FAVOR DOS PeçonhenTos, JÁ DÃO UM ALÍVIO AOS ARGENTINOS.

    E OS INVESTIDORES, ANIMADOS, PODERÃO COLOCAR A ARGENTINA NA SOBERANIA DA AMÉRICA DO SUL.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.