Donald Trump diz que vai pôr termo à guerra na Ucrânia e abandonar Taiwan à sua sorte. Ameaças não faltam — mas a Teoria dos Jogos diz-nos que as suas ações vão provavelmente ficar aquém do que promete o presidente dos EUA.
A Teoria dos Jogos é um ramo da Matemática Aplicada que analisa diversos cenários estratégicos em que dois jogadores têm de escolher entre ações opostas (na maior parte dos casos, têm de optar se vão “lutar ou fugir”) para tentar otimizar o seu ganho.
Milhões de pessoas temem que Donald Trump cumpra com as ameaças que fez ao longo da sua campanha: vão desde “acabar com a guerra na Ucrânia num dia”, abandonando todo o apoio que dão a este país, ao abandono de Taiwan, arriscando uma invasão por parte da China a este país.
O The Conversation explica que uma das lições da teoria dos jogos, o estudo matemático da cooperação e da competição, pode ser relevante neste caso — em particular no que toca ao cenário referido como o “jogo da galinha” ou o jogo do “falcão-pomba”, que fornece um modelo de conflito entre dois atores.
Esse cenário traduz bem o que é a Teoria dos Jogos: imagine que dois jovens estão a jogar um videojogo em que conduzem carros. Os jovens terão de optar entre arriscar ter um acidente e continuar a conduzir ou desviar-se, sendo que quem escolher esta última opção perde pontos.
Se os dois se desviarem, o jogo fica a zero, mas se os dois baterem, é muito pior. No entanto, se um se desviar e o outro não bater, mas continuar a conduzir, este último ganha o prémio máximo.
A tabela abaixo ilustra como ficam os pontos para cada situação descrita.
De acordo com o The Conversation, o “jogo da galinha” foi utilizado para modelar a dissuasão nuclear. Neste caso, um primeiro ataque que destrua o adversário é o equivalente a conduzir quando o adversário se desvia. Isto significa então que, quando ambos os jogadores lançam ataques em simultâneo, o resultado é muito pior do que o zero representado na matriz.
A chave para ganhar o jogo é convencer o adversário de que está disposto a continuar a conduzir a todo o custo. O The Conversation dá o exemplo dos jovens dos videojogos, que muitas vezes “atiram ostensivamente o volante” para mostrarem que estão all in e que não há volta a dar.
Segundo o jornal, é isto que faz Trump: declara ostensivamente o que vai fazer, em grande parte para “testar” o seu adversário e tentar perceber a resposta deles — desviam-se ou conduzem? Para além disso, apontam os especialistas, Trump é imprevisível, fator que neste jogo lhe calha muito bem.
Por exemplo, em 2019, Trump fez uma visita histórica à Coreia do Norte, tendo sido o primeiro líder dos EUA a fazê-lo, lembra o The Conversation.
Nessa reunião com o presidente do país, Trump sugeriu que este era o início de uma nova era de amizade entre as nações, e sugeriu que ele era a única pessoa que poderia fazer isso.
Mas a sua tentativa de consolidar uma aliança com a Coreia do Norte e de travar o seu programa nuclear falhou. Neste caso, a imprevisibilidade de Trump não funcionou.
Mas houve momentos em que foi mais bem sucedido: “No seu primeiro mandato, Trump procurou enfraquecer a aliança da NATO, insultando e os aliados dos EUA. E as suas ameaças de cortar o apoio dos EUA ajudaram a atingir o seu objetivo de persuadir os países membros da NATO a aumentar as suas despesas com a defesa. Era exatamente isso que ele esperava”, escreve o jornal.
Trump é imprevisível, e isso faz dele um grande jogador de videojogos de carros — ou um confuso estratega geopolítico.
Os especialistas do The Conversation chegam mesmo a crer que, caso Putin recuse um potencial acordo de paz com a Ucrânia proposto por Trump, ou se o aceitar e depois retomar a guerra durante a sua presidência, o Presidente dos EUA poderá levar esse facto a peito e virar-se contra o presidente russo.
Seja como for, Trump sabe jogar à Teoria dos Jogos: é bom porque é imprevisível, e a imprevisibilidade e imprudência podem compensar e ajudá-lo a atingir o seu objetivo.
Qual é o seu objetivo? Ninguém sabe ao certo, mas a Teoria dos Jogos diz-nos para estarmos atentos aos próximos passos — o resultado pode ser bem pior que zero.