A febre do ouro está a secar a Amazónia

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A extração de ouro na Amazónia está a retirar tanta água do solo que está a torná-lo demasiado quente e seco para que as plantas consigam renascer.

Um estudo publicado esta segunda-feira na Nature Communications Earth & Environment revelou que a extração de ouro está (literalmente) a secar a Amazónia.

Os investigadores descobriram que a extração por sucção não só degrada o solo, como também drena a humidade e retém o calor, criando condições extremas em que as árvores não estão a conseguir sobreviver.

A extração ilegal de ouro afeta atualmente muitas regiões da Amazónia, incluindo o Peru, o Brasil, o Suriname e a Guiana.

“É como tentar fazer crescer uma árvore num forno”, disse Josh West, coautor do estudo, professor de Ciências da Terra e Estudos Ambientais na Faculdade de Letras, Artes e Ciências da USC Dornsife, em comunicado.

Como escreve a Live Science, em toda a floresta amazónica, a extração de ouro é responsável por cerca de 10% da desflorestação – uma percentagem que está a aumentar significativamente.

A quantidade de terra na Amazónia utilizada para extrair ouro duplicou desde 2018, na sequência de um forte aumento do preço do metal precioso.

O impacto na paisagem é devastador, com temperaturas do solo a atingir os 60 graus Celsius. A regeneração natural da terra é quase impossível. Só se safam mesmo as áreas próximas de fontes de água.

Efeito dos “canhões de água”

No novo estudo, os investigadores procuraram descobrir por que razão as árvores não conseguem regenerar-se em terrenos que foram explorados para extrair ouro.

Esta prática mineira utiliza uma draga que requer grandes volumes de água para aspirar sedimentos e areia dos leitos dos rios e ribeiros em busca de partículas de ouro. O efeito dos “canhões de água” – como descrevem os investigadores – é a lavagem do solo superficial, rico em argila e nutrientes.

A paisagem transforma-se em lagos secos, alguns tão grandes como campos de futebol, rodeados por montes de areia com até 7 metros de altura.

A equipa descobriu que os resíduos mineiros atuam como uma peneira, permitindo que a água se infiltre muito mais rapidamente do que nos solos da floresta primária (quase 15 metros por dia, em comparação com apenas 0,074 metros por dia na floresta).

“Isto deixa o solo com menos humidade e mais calor, exacerbado pela falta de sombra devido à desflorestação, tornando impossível a fixação de novas raízes. As árvores replantadas simplesmente morrem“, explicou, à Live Science, a líder da investigação, Abra Atwood, do Centro de Investigação Climática Woodwell.

Destruída área 10x o tamanho de Portugal

A equipa descobriu que, entre 1980 e 2017, a mineração em pequena escala destruiu mais de 950 km quadrados de floresta tropical neste território.

Isso equipara-se a uma área mais de dez vezes o tamanho de Portugal.

as operações continuam a crescer, colocando em risco a biodiversidade e os territórios indígenas. A mineração de ouro é mesmo uma bomba relógio, que está a acelerar a libertação de carbono nas turfeiras da Amazónia peruana.

“A paisagem atual nas áreas de mineração de sucção onde trabalhámos oferece muito pouco em termos de serviços ecossistémicos para além da extração de ouro. A perda de habitat também terá um impacto profundo na biodiversidade a longo prazo”, afirmou Atwood.

“Só existe uma floresta tropical amazónica. É um sistema vivo diferente de tudo o que existe na Terra. Se a perdermos, perdemos algo insubstituível”, alertou, por seu turno, Josh West.

ZAP //

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