“A explosão perfeita”. Fusão de estrelas de neutrões cria explosões cósmicas esféricas

Albert Sneppen

Fusão de estrela de neutrões

O tipo de explosão, conhecido como kilanova, foi proposto inicialmente em 1974, mas a sua confirmação só aconteceu em 2013.

Uma equipa do Centro Cósmico Dawn, em Copenhaga, teve o privilégio astronómico de experienciar o que pode ser descrito como a “explosão perfeita”. Tratou-se de uma explosão colossal e totalmente esférica motivada pela fusão de dois restos estelares muito densos, também conhecidos como estrelas de neutrões, poucos segundos antes de colapsar e formar um buraco negro.

Este tipo de explosão, batizada de kilonova, acontece quando duas estrelas de neutrões se fundem. De acordo com o artigo assinado pelos investigadores e publicado na revista Nature, a surpresa aconteceu com a bola de fogo luminosa em rápida expansão.

As duas estrelas de neutrões, que combinadas tinham uma massa 2.7 vezes o tamanho do Sol, orbitaram-se mutuamente durante milhares de milhões de anos antes de chocarem a alta velocidade e explodirem. O processo ocorreu na galáxia NGC 4993, que fica a 140-150 mil anos luz da Terra e na direção da constelação Hydra — um ano luz é a distância que a luz viaja num ano.

A distinção de explosões kilanova foi proposta inicialmente em 1974, mas a sua confirmação só aconteceu em 2013. Ainda assim, o seu aspeto permaneceu um mistério até 2017, altura em que começaram a ser estudadas amplamente.

“Trata-se da explosão perfeita de diferentes formas. É linda, em termos de estética, na sua forma simples, mas também no seu significado físico”, descreveu o astrofísico Albert Sneppen, investigador do Centro Cósmico Dawn e um dos autores do estudo.

“Esteticamente, as cores que a kilonova emite parecem-se literalmente ao Sol, excetuando pelo facto de ser milhões de vezes maior em termos de área. No que respeita à física, esta explosão esférica contém uma a extraordinária física que está no centro da fusão“, acrescentou o investigador, citado pelo The Guardian.

As expectativas dos astrofísicos era que a explosão se parecesse a um disco achatado, uma espécie de panqueca cósmica luminosa, possivelmente com um jato de matéria a jorrar para o exterior.

Também Darach Watson, investigadora na mesma instituição e autora do estudo, manifestou a sua surpresa com o fenómeno observado, justificando a sua perfeição com as condições registadas naquela altura.

“Dada a natureza extrema das condições físicas — muito mais extremas do que uma explosão nuclear, por exemplo, com densidades superiores a um núcleo atómico, temperaturas de mil milhões de graus e campos magnéticos suficientemente fortes para distorcer as formas dos átomos — pode muito bem haver aqui física fundamental que ainda não compreendemos”, acrescentou Watson.

Já no que respeita ao formato esférico, os autores também têm algumas teses possíveis para a justificar, nomeadamente a libertação de energia pelo enorme campo magnético de uma estrela de neutrões de curta duração. Ou, em alternativa, a função das partículas enigmáticas chamadas neutrinos.

ZAP //

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