O manto de gelo da Antártida Ocidental pode causar uma subida de metros no nível do mar se entrar em colapso. Contudo, há mais de 120.000 anos, pode ter sobrevivido a um período ainda mais quente do que o atual – revelando que é mais forte do que pensávamos.
Um estudo publicado esta quarta-feira na Nature indica a plataforma de Ronne – uma das mais importantes plataformas de gelo na Antártida – sobreviveu a um período de temperaturas quentes há mais de 120.000 anos.
Isto indica que, afinal, o manto de gelo da Antártida Ocidental pode não ser tão vulnerável como se pensava a um colapso total causado pelas alterações climáticas.
Ainda assim, o líder da investigação Eric Wolff, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, referiu que isto “são boas e más notícias”.
“Não posso pôr a mão no coração e garantir que isto não vai acontecer no próximo século ou dois”, explicou o investigador, à New Scientist.
A mesma revista nota que as alterações climáticas causadas pelo homem tornaram incerto o futuro da camada de gelo da Antártida Ocidental. A continuar ao ritmo atual, alguns modelos projetam que o manto de gelo desaparecerá completamente nos próximos séculos.
No cenário mais extremo, o nível do mar poderia aumentar até 2 metros em 2100 – projetou o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas em 2023.
O novo estudo analisou a plataforma de gelo de Ronne, uma grande secção da camada de gelo que se estende até ao oceano, para ver como se comportou entre 117.000 e 126.000 anos atrás. Durante esse período, as temperaturas eram mais elevadas do que as atuais.
A estabilidade do gelo neste período quente sugere que agora o manto de gelo tem menos probabilidade de o manto de gelo da Antártida Ocidental entrar em colapso total à medida que as alterações climáticas aumentam as temperaturas globais.
No entanto, os investigadores alertaram que a subida do nível do mar devido à fusão do gelo continua a representar um grande risco.
Além disso, a sobrevivência da plataforma de gelo Ronne não significa que outras áreas de gelo, como os glaciares Thwaites ou Pine Island, não tenham derretido.
A dinâmica do aquecimento no último interglaciar, que variava consoante a região, também é diferente do aquecimento global atual, em que as temperaturas estão a aumentar em todo o planeta. Por exemplo, as águas oceânicas mais quentes que chegam à Antártida podem acelerar o degelo ao penetrarem por baixo do gelo, explicou Eric Wolff.