A boca humana esconde um mecanismo de divisão celular inimaginável

Alongamento celular nas extremidades da bactéria filamentosa Corynebacterium matruchotii

A boca humana é um ecossistema próspero de mais de 500 espécies diferentes de bactérias que vivem em comunidades distintas e estruturadas chamadas biofilmes. Quase todas estas bactérias crescem dividindo-se em duas, com uma célula-mãe a dar origem a duas células-filhas.

Uma equipa de cientistas descobriu um mecanismo de divisão celular na Corynebacterium matruchotii, uma das bactérias mais comuns na placa dentária. A bactéria filamentosa divide-se em várias células ao mesmo tempo, um processo raro chamado fissão múltipla.

Segundo o Phys.org, as células de C. matruchotii dividem-se em até 14 células diferentes ao mesmo tempo, dependendo do comprimento da célula-mãe original.

Os seus filamentos atuam como um andaime dentro da placa dentária, uma comunidade microbiana dentro de uma população de microrganismos que vivem e coexistem com um corpo humano saudável — um ambiente conhecido como microbioma humano.

Num novo estudo, publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences, os investigadores utilizaram microscopia de lapso de tempo para estudar o crescimento destas células filamentosas.

“Estes biofilmes são como florestas tropicais microscópicas. As bactérias nestes biofilmes interagem à medida que crescem e se dividem. Pensamos que o ciclo celular invulgar da C. matruchotii permite a esta espécie formar estas redes muito densas no centro do biofilme”, diz o autor principal do estudo, Scott Chimileski.

Estas bactérias não têm flagelos, os organelos que permitem às bactérias deslocarem-se. Uma vez que estas bactérias não podem nadar, o seu alongamento e divisão celular podem ser uma forma de explorar o seu ambiente, semelhante às redes miceliais observadas em fungos e bactérias Streptomyces que vivem no solo.

“Se estas células tiverem a capacidade de se deslocar preferencialmente em direção a nutrientes ou a outras espécies para formar interações benéficas, isto pode ajudar-nos a compreender como surge a organização espacial dos biofilmes de placas”, conclui Chimileski.

Futuramente, os cientistas esperam compreender o significado da estratégia reprodutiva destas bactérias para a saúde das nossas bocas e dos nossos corpos.

Soraia Ferreira, ZAP //

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