Afinal, o migrante ilegal do Instagram que relata travessia até Espanha é falso

abdoudiouf1993 / Instagram

O migrante ilegal senegalês Adbou Diouf mostra o momento da chegada a Espanha.

Adbou Diouf foi notícia em todo o mundo, apresentado como um migrante ilegal do Senegal que relatava no Instagram a travessia arriscada que tantos jovens africanos fazem até Espanha. Mas, afinal, tudo não passa de uma campanha publicitária.

O jornal El País divulgou que o perfil que foi criado no Instagram há cerca de uma semana, com várias fotografias que parecem ilustrar a travessia ilegal de um senegalês desde o seu país natal até Espanha, faz parte da estratégia de promoção ao Festival de Fotografia espanhol Getxophoto.

Este evento, que arranca na Catalunha a 3 de Setembro próximo, dedica-se, nesta edição, ao tema das viagens e, em jeito de explicação, depois de descoberta a verdade, a conta de Instagram de Adbou Diouf já veio notar que o projecto pretendeu “explorar como usamos as redes sociais como um lugar de partilha de imagens de viagens e de experiências, dependendo de quem somos e de porque viajamos“.

Isto, “mostrando que outras realidades existem e estão mais perto do que pensamos”, adianta-se na mesma publicação, onde se atesta ainda que esta “experiência no Instagram baseou-se na experiência real de milhares de pessoas que todos os anos arriscam as suas vidas por um futuro melhor“.

O relato da viagem de Adbou Diouf começa ainda na sua terra natal, com ele a dizer-se “preparado para tudo“. Numa das fotos mostra “a última refeição” que a mãe lhe confeccionou com a nota de que parte para a poder ajudar, porque está “muito velha para trabalhar”.

Depois surge a relatar “dois dias a andar” com o guia a dizer que não podem parar ou “perdemos dois mil euros“, o preço que ele e cada um dos companheiros de viagem pagaram para a perigosa travessia de barco.

Adbou Diouf mostra depois uma fotografia onde surge “algures no deserto antes de Marrocos”, “sem comida” e ao pé de uma fogueira para espantar o frio.

Surge a seguir “escondido na traseira de um reboque” a “tentar passar a fronteira”, “sem ar”, com “as pernas a doer” e, finalmente “a correr para o futuro” em Marrocos.

Numa publicação de há cerca de uma semana, aparece a relatar a parte mais arriscada desta viagem, frisando que está “sem dinheiro e sem grande barco” e que “a única forma de atravessar [é] um pequeno barco insuflável”.

“Realmente assustado”, desabafa então Adbou Diouf.

Já em Espanha, o jovem senegalês publicou a foto reproduzida em primeiro plano, com mais dois companheiros de viagem, aliviados por terem alcançado “finalmente a terra das oportunidades”.

“Cansados mas felizes. Viagem muito perigosa”, escreve também Adbou Diouf como legenda da imagem.

Depois conta a chegada da polícia à praia e aparece envolto num cobertor termal antes de rumar ao Centro de Acolhimento. “Não é um bom lugar para ficar”, nota com um ar desalentado.

Adbou Diouf publica ainda um vídeo onde aparece com dois amigos, todos com ar muito cansado, mas com o jovem senegalês a parecer forçar um sorriso e a escrever que os “verdadeiros amigos” ficam “juntos e fortes como panteras”.

SV, ZAP