Uma equipa de investigadores da Universidade de Aveiro (UA) identificou sequências de DNA específicas do vírus Ébola que permitem diferenciar as distintas espécies deste vírus e distinguir o surto que começou na África no início de 2014 de outros episódios da doença.
O trabalho dos especialistas em bioinformática e biologia computacional do Instituto de Engenharia Electrónica e Informática (IEETA) e do Departamento de Electrónica, Telecomunicações e Informática (DETI) da UA abre as portas tanto a novas formas de diagnóstico como ao desenvolvimento de novas terapias de combate ao vírus que, no recente surto, matou 11 mil pessoas.
“Os nossos resultados podem ser utilizados no diagnóstico do vírus Ébola, uma vez que as sequências que identificámos permitem distinguir entre espécies e surtos do vírus”, congratula-se Raquel Silva.
A investigadora do IEETA e uma das autoras do estudo que também envolveu os cientistas Diogo Pratas, Luísa Castro, Armando Pinho e Paulo Ferreira, garante que o trabalho com as sequências de ADN do Ébola até agora desconhecidas pela ciência, “também pode ser aplicado no seu tratamento, já que [as sequências] estão localizadas em proteínas fundamentais para a replicação do vírus”.
Em qualquer dos casos, sublinha Raquel Silva, “terão de ser realizados estudos adicionais em laboratório para determinar a sua eficácia”.
A inovação do estudo da UA está no método utilizado para comparar o genoma do vírus contra uma sequência de referência, neste caso, o seu hospedeiro, sem recorrer ao alinhamento das sequências.
“Ao identificar regiões do DNA viral que não estão presentes no genoma humano, estas sequências têm potencial para serem usadas tanto no diagnóstico como no desenvolvimento de novas terapêuticas”, aponta Raquel Silva.
“A sua especificidade para o vírus é maior o que é uma vantagem, por exemplo, na identificação do vírus em amostras de origem humana, ou no desenvolvimento de tratamentos mais eficazes e seguros”, explica.
Novos métodos computacionais para perscrutar o Ébola
Este trabalho foi desenvolvido recorrendo à construção de novos métodos computacionais que permitiram descrever um genoma usando informação de outro genoma. Para isso, os investigadores do IEETA/DETI não usaram amostras do vírus Ébola mas sim as suas sequências de DNA que estão disponíveis em bases de dados públicas, neste caso, no National Center for Biotechnology Information.
Na sua maioria, aponta Raquel Silva, “estes genomas correspondem ao vírus Ébola do surto iniciado em 2014 na África Ocidental [Guiné, Libéria e Serra Leoa], mas também foram incluídas sequências provenientes de surtos anteriores e das várias espécies do vírus Ébola”.
Ainda se sabe muito pouco sobre o vírus Ébola, para o qual não há cura ou tratamento definitivos, pelo que a identificação de novos alvos terapêuticos é relevante.