Novo primeiro-ministro francês salva feriados nacionais e abre debate a (quase) todos

Lecornu vai cancelar as propostas do seu antecessor que previam a eliminação de dois feriados públicos, uma medida que fazia parte de um plano de austeridade destinado a reduzir a enorme dívida pública francesa.

O novo primeiro-ministro francês, Sébastien Lecornu, anunciou este sábado que vai manter dois feriados que o antecessor François Bayrou previa retirar no próximo ano.

Lecornu diz não querer “prejudicar quem trabalha“, e que por isso decidiu “retirar a supressão de dois feriados”

“Decidi retirar a proposta de supressão de dois feriados públicos”, afirmou Lecornu numa entrevista a vários jornais franceses, citado pelo Politico. “É sempre em tempos de impasse e tensão que o nosso país avança. O meu estado de espírito é simples: não quero nem instabilidade nem imobilismo.”

Lecornu procura assim distanciar-se das medidas de corte orçamental que François Bayrou tentou, sem sucesso, impor na Assembleia francesa, situação que levou à sua queda, a 8 de setembro.

O novo chefe do Governo francês, que assumiu o cargo há três dias, anunciou também a intenção de falar com o Partido Socialista (PS), o Partido Comunista Francês (PCF) e Os Verdes, mas não com A França Insubmissa (LFI), partido de extrema-esquerda liderado por Jean-Luc Mélenchon.

Quero um debate parlamentar moderno, franco e de alto nível, com a esquerda republicana, cujos valores conhecemos e que se deve libertar de A França Insubmissa, que se exclui do debate e prefere a desordem. Isso será difícil, mas necessário para dar um orçamento ao país”, argumentou.

Já em relação ao partido de extrema-direita União Nacional (RN), o novo primeiro-ministro mostrou abertura para falar com os deputados da bancada liderada por Marine Le Pen.

“Se me perguntarem se devemos chegar a um acordo político com a RN, a resposta é claramente não. No entanto, recusar dialogar com os deputados eleitos por um terço do povo francês não faz sentido”, disse.

O partido de Le Pen foi fundamental para a queda dos recentes governos de Michel Barnier e Bayrou.

A França está a tentar controlar os gastos para reduzir uma dívida pública que ascende a 3,3 mil milhões de euros, e um défice orçamental equivalente a 5,4% do Produto Interno Bruto do país.

No entanto, uma legislatura dividida, desde que Emmanuel Macron convocou eleições parlamentares antecipadas no ano passado, tem bloqueado a  tomada de decisões importantes dos sucessivos governos nomeados pelo presidente francês.

Emmanuel Macron já nomeou sete primeiros-ministros desde que assumiu o cargo em 2017, quatro deles nos últimos dois anos. Devido a esta instabilidade, que já levou à realização de duas greves nacionais este mês, as condições de financiamento do Estado francês têm vindo a deteriorar-se.

Lecornu será assim o mais recente primeiro-ministro a tentar garantir a aprovação de um orçamento com o apoio dos socialistas de centro-esquerda e do partido conservador Les Républicains.

Quero dizer aos franceses… vamos conseguir”, afirmou Lecornu no início desta semana, durante a cerimónia oficial de tomada de posse, ao lado de Bayrou.

Lecornu realizou a primeira viagem oficial como primeiro-ministro à cidade de Mâcon, situada no centro-leste de França. Com esta viagem à França rural, que tem tido dificuldade em atrair médicos, o primeiro-ministro tentou abordar uma das preocupações do eleitorado francês: o acesso aos cuidados de saúde.

Durante a viagem, Lecornu anunciou o primeiro grande projeto fora do orçamento: a criação de uma rede nacional de saúde com uma ampla cobertura para que os franceses possam ter acesso a cuidados médicos em 30 minutos.

ZAP // Lusa

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