Cuba enviou médicos e alimentos para o Vietname durante a guerra. Agora, os vietnamitas estão a enviar dinheiro para os cubanos que passam por dificuldades.
Uma onda de generosidade está a fluir do Vietname para Cuba, à medida que cidadãos vietnamitas comuns fazem doações para ajudar uma nação que enfrenta graves dificuldades económicas.
Impulsionados pelas memórias do apoio de Cuba durante a Guerra do Vietname, quando a ilha enviou médicos, alimentos e gado, os doadores têm contribuído com pequenas quantias, muitas vezes apenas 38 cêntimos, numa campanha coordenada pelo Comité Central da Cruz Vermelha do Vietname.
Na primeira semana, a iniciativa arrecadou mais de 13 milhões de dólares, superando largamente as expectativas dos promotores da campanha, relata o The New York Times.
De acordo com o Vietnam Plus, a campanha de 65 dias, que teve início a 13 de agosto e deverá terminar a 16 de outubro, tinha como objetivo atingir um total de 2,5 milhões de dólares em doações.
Muitos doadores sentiram-se inspirados por histórias da solidariedade passada de Cuba. “Sinto-me mal por ver que as pessoas em Cuba estão a sofrer dificuldades económicas”, diz Dinh Hien Mo, de 33 anos, que doou 19 dólares do seu modesto rendimento numa mercearia familiar.
A campanha coincide com uma crise económica aguda em Cuba. O turismo não recuperou desde a pandemia, a inflação quadruplicou nos últimos cinco anos e os cortes de energia tornaram-se generalizados devido a uma rede elétrica envelhecida e à escassez de combustível.
Num país onde por vezes não há água para enganar o estômago, muitos produtos essenciais, incluindo alimentos e medicamentos, estão cada vez mais inacessíveis — enquanto a taxa de mortalidade infantil, que era inferior à dos Estados Unidos e União Europeia, começou a aumentar.
Os analistas atribuem grande parte da crise à má gestão económica de longa data e ao controlo estatal rigoroso, agravados pelo embargo dos EUA, que limita as opções de Cuba desde 1962.
A nação insular, que tinha uma economia desigual, mas desenvolvida, praticamente equivalente à da Argentina na década de 1950, permaneceu sob o domínio intransigente de Fidel Castro até à sua morte, em 2016.
O Vietname, em contraste, transformou a sua economia na década de 1980, adotando a iniciativa privada, restaurando relações com os EUA e praticamente eliminando a pobreza extrema.
Economistas vietnamitas já tinham aconselhado Cuba a fazer reformas semelhantes, mas as autoridades cubanas rejeitaram em grande parte essas sugestões.
Atualmente, o Vietname continua a apoiar Cuba diplomática e materialmente, incluindo doações de arroz e promessas de relações bilaterais mais próximas.
A iniciativa de financiamento coletivo, lançada para assinalar o 65.º aniversário das relações diplomáticas entre os dois países, já atraiu mais de 1,7 milhões de doações — um reflexo da forte ligação emocional entre os povos das duas nações.
Numa publicação no X, o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, agradeceu ao Vietname por “um ato de amor de um povo trabalhador e heroico”.
Alguns críticos da campanha afirmam que não faz sentido apoiar líderes que empobreceram o povo cubano. Mas os doadores dizem que esperam apenas que as transferências de dinheiro cheguem às pessoas necessitadas.
“Sei que o apoio do Vietname não será suficiente para resolver tudo, mas espero que ajude de alguma forma”, diz Dinh Hien Mo. “E espero que a economia deles melhore — para que as pessoas possam ter vidas melhores”.