De ministros virtuais a multas enviadas por IA, Tirana aposta na inteligência artificial para limpar a corrupção e acelerar a adesão à União Europeia. Mas especialistas alertam: sem reformas políticas, o futuro pode ser só uma ilusão digital.
A Albânia está a apostar na Inteligência Artificial para combater a corrupção e acelerar o processo de adesão à União Europeia.
O primeiro-ministro Edi Rama defende que a tecnologia pode tornar-se “o membro mais eficiente” do Governo. Chegou mesmo a sugerir a criação de um ministério totalmente gerido por IA.
“Assim não haveria nepotismo nem conflitos de interesse”, afirmou em julho o chefe do governo albanês — para quem não é impossível imaginar um país com ministros virtuais e até com um primeiro-ministro digital.
A ideia divide opiniões, conta o
Politico. O antigo político e escritor Ben Blushi acredita que um Estado gerido por IA é apenas uma questão de tempo. “Não se corrompe, não precisa de salário e não comete erros”.
Mas a oposição não partilha do entusiasmo. “A IA é uma ferramenta, não um milagre”, reagiu a deputada Jorida Tabaku, para quem a prioridade deveria ser reformar um sistema em que 80% do orçamento passa por contratos públicos, muitos deles sem concorrência.
Apesar das críticas, a IA já está em uso. O Governo recorre a sistemas inteligentes para fiscalizar concursos públicos e monitorizar transações fiscais e aduaneiras. Drones e satélites ajudam a vigiar construções ilegais, concessões balneares e plantações de canábis.
Há planos para aplicar IA no combate aos acidentes rodoviários, num país com uma das mais altas taxas de sinistralidade da Europa, e a ideia de enviar multas automáticas por SMS ou e-mail. Saúde, educação e identificação digital são outras áreas em estudo.
Este recente impulso tecnológico está ligado ao objetivo político central do governo albanês: a adesão à União Europeia. Desde 2022, a Albânia negocia a integração e enfrenta o desafio de adaptar a sua legislação a 250 mil páginas de normas comunitárias.
Rama estabeleceu uma parceria com Mira Murati, ex-diretora tecnológica da OpenAI e criadora do ChatGPT, natural do sul do país. A IA está a ser usada para traduzir e comparar leis nacionais com o acervo comunitário.
O Governo acredita que pode concluir o trabalho técnico até 2027, dois anos antes da meta oficial de adesão em 2030. Mas especialistas avisam que a tecnologia não substitui a política.
O país avança também noutros planos de digitalização. Rama quer uma economia sem dinheiro físico até 2030. A plataforma e-Albania já concentra 95% dos serviços públicos. Em cinco anos processou 49 milhões de pedidos, poupando mais de 600 milhões de euros a cidadãos e emigrantes.
Nem sempre a aposta é séria. Em maio, na cimeira da Comunidade Política Europeia, que juntou dirigentes de todo o continente em Tirana, os líderes estrangeiros foram recebidos por versões “bebé” de si próprios, criadas por IA. O episódio fez sorrir uns e deixou outros de semblante fechado.
Apesar do entusiasmo oficial, os especialistas alertam: faltam técnicos, centros de dados e infraestruturas. Sem um plano gradual e regras claras, a promessa pode falhar. Mas Rama insiste: para vencer a corrupção e chegar à União Europeia, a Albânia não tem outro caminho senão avançar com a inteligência artificial.
E mais fácil de serem hackeados…. Se fosses serio, tu é que te demitias e nomeavas o IA como teu substituto.