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Teremos alguma vez um túnel subaquático transatlântico?

ZAP // Tom Patterson / Wikipedia

Um túnel subaquático de Lisboa a Nova Iorque: com a tecnologia atual, uma miragem

A ideia é irresistível: entrar num comboio em Londres ou Lisboa e emergir 54 minutos depois em Nova Iorque, viajando através de um túnel sob o Oceano Atlântico. Este tipo de viagem é descrito em algumas propostas recentes. Mas será um túnel transatlântico realmente possível — ou coisa de ficção científica?

A resposta curta é simples: com a tecnologia atual, provavelmente tal não é possível — e a única forma de viajar de comboio de Lisboa até Nova Iorque seria numa longa viagem através da Sibéria e do Alasca.

Antes de mais, a viagem de 54 minutos como a que recentemente foi sugerida exigiria comboios de vácuo a viajar a 8.000 km/h — tecnologia que ainda não existe.

Com velocidades ferroviárias convencionais, a viagem demoraria cerca de 15 horas, tornando-a mais lenta que um voo de 8 horas.

Atualmente, o túnel submarino mais longo do mundo é o Túnel da Mancha, que tem uma secção subaquática de 37,9 quilómetros que liga Inglaterra e França.

A construção do túnel, apelidado de Chunnel, demorou seis anos, envolveu 13.000 trabalhadores e custou 4,65 mil milhões de libras em 1994 (12 mil milhões de libras, ou 15 mil milhões de euros atualmente).

Dependendo de onde se construísse o túnel transatlântico, poderia custar muito mais — tanto em tempo como em dinheiro. O projeto do Túnel Hudson, por exemplo, é um túnel ferroviário de 14 km entre Nova Iorque e Nova Jersey que se prevê que demore 12 anos e custe 15,2 mil milhões de euros.

Este projeto são realmente 10 projetos diferentes, cada um dos quais é quase um megaprojeto em si mesmo”, disse Steve Sigmund, diretor de divulgação pública da Gateway Development Commission, a organização por trás do Projeto do Túnel Hudson, à Live Science.

Um túnel transatlântico seria consideravelmente mais longo.

O sonho mais popular de um túnel transatlântico seria entre Londres e Nova Iorque, que se estenderia por cerca de 5.500 km. Para um túnel desta dimensão, “existiriam vários desafios”, explica Bill Grose, especialista em túneis e membro da Institution of Civil Engineers, à Live Science.

O primeiro desafio seria a logística de o construir. “Ter-se-ia de resolver como ventilar um túnel assim, como fornecer energia a uma máquina perfuradora de túneis, e como levar os trabalhadores ao local”, diz Grose.

O tempo que demoraria a transportar trabalhadores de uma extremidade do túnel até ao ponto médio seria impraticável, disse Grose, pelo que o projeto exigiria uma máquina perfuradora de túneis totalmente autónoma — um dispositivo que ainda não foi inventado numa escala que pudesse escavar um túnel subaquático para veículos humanos.

Teria que se ter em conta também as exigências energéticas. Para um túnel de apenas 10 km de comprimento, uma máquina perfuradora típica requer cerca da mesma quantidade de energia consumida por uma pequena cidade, diz Grose.

Além disso, as máquinas perfuradoras de túneis são lentas.

Para um túnel com a distância mais curta através do Atlântico — da Gâmbia ao Brasil, cerca de 2.575 km — “isso provavelmente demoraria algo como 500 anos à velocidade atual das máquinas perfuradoras de túneis”, nota Grose. “Seria necessário algo que funcionasse 50 vezes mais rápido que a tecnologia atual”.

Há também o desafio da pressão da água. “É preciso ter muito cuidado com a enorme pressão que existe, tanto em termos de escavar as máquinas perfuradoras nos próprios túneis, mas também… garantir que as pessoas estão seguras”, diz Sigmund.

E isso é apenas 1,6 km através do Hudson. Portanto, multipliquemos isso por mil, e vamos deparar-nose com alguns problemas muito sérios — em projetos de túneis submarinos anteriores, coisas como fugas, jorros de água e colapsos levaram a perdas financeiras e mortes”, acrescenta.

O recorde mundial para pressão de água enfrentada por uma máquina perfuradora de túneis é 15 bar, ou 15 vezes a pressão atmosférica ao nível do mar, cerca de 150 metros abaixo da superfície da água.

Na sua parte mais profunda, o Oceano Atlântico tem mais de 8.000 m de profundidade, o que representa 800 bar de pressão.

Finalmente, há o problema de financiar um projeto de tão grande magnitude. “Construção, materiais, tempo, mão-de-obra, pessoas a planear — essas são as peças principais”, diz Sigmund, enumerando os fatores que levam os custos dos túneis para valores astronómicos mesmo em projetos relativamente pequenos.

Dado o custo enorme e o risco catastrófico de uma única fuga, financiar tal projeto seria quase impossível. “Neste momento, diria que os desafios são insuperáveis”, disse Grose. “Há algumas coisas que ainda precisam de ser inventadas” antes de podermos sonhar realisticamente com um túnel transatlântico.

ZAP //

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