Emil Aladjem / Israel Antiquities Authority
A Caverna de Salomé foi usada como local de peregrinação durante séculos
Uma gruta funerária com 2.000 anos em Israel continua a gerar debate. Quem exatamente aqui foi sepultado? Infelizmente, Salomé era um nome muito comum nos tempos bíblicos.
A Gruta de Salomé situa-se nas Terras Baixas da Judeia, no centro-sul de Israel. Mas até hoje, os arqueólogos não conseguiram determinar exatamente que Salomé ali se encontra sepultada.
Foi uma das discípulas de Jesus, a mulher que se diz ter assistido ao nascimento de Cristo, ou uma antiga princesa judaica aparentada com um dos maiores vilões da Bíblia?
Descrita como “uma das maiores e mais magníficas propriedades funerárias alguma vez descobertas em Israel”, a gruta tem duas câmaras funerárias e duas câmaras adicionais, rodeadas por um átrio de entrada e uma imponente muralha de pedra.
A gruta foi totalmente escavada pela primeira vez em meados da década de 1980, depois de ter sido descoberta por saqueadores, conta o IFLS.
As escavações revelaram que se tratava de um local de sepultura judaico do período do Segundo Templo (século I a.C. ao século I d.C.), que terá sido reutilizado e ampliado ao longo dos séculos — tendo-se tornado mais tarde, no período bizantino (séculos V a IX d.C.), um local de peregrinação,.
Há dezenas de inscrições e gravuras esculpidas nas paredes macias da antiga gruta, com destaque para duas inscrições gregas com o nome “Salomé”. Os arqueólogos acreditam que esta inscrição é uma pista sobre a pessoa que ali se encontra sepultada. Mas quem seria?
O desafio reside no facto de muitas mulheres chamadas Salomé aparecerem tanto em fontes bíblicas quanto históricas deste período. Por todos os relatos, tratava-se de um nome bastante comum na época.
Há uma Salomé mencionada no Evangelho apócrifo de Tiago como associada da parteira sem nome presente no nascimento de Cristo. Alguns estudiosos acreditam que esta figura era irmã ou prima de Maria, a mãe de Jesus.
Uma “Salomé” é referida nos Evangelhos canónicos como discípula de Jesus, que esteve presente na crucificação de Cristo — e uma das pessoas que depois encontraram o seu túmulo vazio.
Além disso, uma figura histórica proeminente chamada Salomé aparece em relatos da dinastia real herodiana, seja como irmã ou filha de Herodes, o Grande — sim, o famigerado rei dos relatos bíblicos que ordenou o Massacre dos Inocentes.
Num novo estudo, recentemente publicado na revista ‘Atiqot, arqueólogos da Autoridade de Antiguidades de Israel defendem que esta última hipótese é provavelmente a correta: a Salomé que se encontra sepultada na caverna com o seu nome é a princesa herodiana.
Os autores do estudo consideram que o tamanho e esplendor do local funerário sugerem que foi reservado para uma pessoa de estatuto social extremamente elevado, como, por exemplo, um membro próximo da família do Rei Herodes.
Além disso, recorrem a evidências históricas para mostrar como a irmã de Herodes, o Grande, chamada Salomé, estava intimamente ligada à região local de Idumeia, onde a gruta se encontra.
“Dado a sua escala e grandeza, acreditamos que pertencia à família real ou, pelo menos, à mais alta elite da sociedade do período do Segundo Templo”, escrevem os autores do estudo, Nir-Shimshon Paran e Vladik Lifshits, no seu artigo.
“Como demonstrámos, a região que rodeia a Gruta de Salomé contém várias estruturas de luxo pertencentes a indivíduos de alto escalão, e juntamente com a opulência excecional da propriedade funerária, é proposta uma ligação ao mais alto escalão social – a família real”, detalham os investigadores.
“Na nossa opinião, os dados acumulados apontam para a família de Herodes como proprietária da gruta”, concluem os autores do estudo.
