Eridu: como encontrámos a primeira cidade da história da Humanidade

David Stanley/Wikimedia Commons

O zigurate aqui retratado pode ser o templo mais antigo do planeta.

No coração do deserto mesopotâmico, no sul do atual Iraque, jazem os restos de Eridu — uma das cidades mais antigas da história da humanidade.

Mais antiga que as pirâmides do Egito, inicialmente ignorada e subestimada, a antiga metrópole suméria Eridu revelou-se, através de escavações arqueológicas meticulosas, peça central para a compreensão das origens da civilização.

A redescoberta de Eridu começou em 1854, quando John George Taylor, enviado britânico e agente da Companhia das Índias Orientais, foi encarregado de explorar Tell Abu Shahrain, um conjunto de montes formados por ruínas de antigos assentamentos, recorda a National Geographic.

Apesar de ter identificado muralhas, plataformas, sistemas de drenagem e até uma estátua de um leão, Taylor considerou a sua expedição pouco frutífera. Só muito mais tarde se viria a perceber que aqueles montes abrigavam os vestígios de Eridu, uma cidade lendária.

Segundo a Lista de Reis da Suméria, Eridu foi a primeira cidade onde os deuses concederam a realeza aos homens, antes de um grande Dilúvio. A cidade era casa do templo principal do deus Enki, divindade da sabedoria e das águas doces, e foi, durante séculos, um importante centro religioso da Suméria.

Apesar do desinteresse inicial, o sítio arqueológico continuou a atrair atenções. Em 1918 e 1919, campanhas lideradas por Campbell Thompson e Harry R.H. Hall tentaram identificar estruturas monumentais.

Mas só em 1946 arrancaram primeiras escavações de grande escala, lideradas por Fuad Safar e Seton Lloyd, com o apoio do Departamento de Antiguidades de um Iraque recém-independente.

Safar e Lloyd concentraram-se no maior dos montes e cedo identificaram um zigurate inacabado da época da terceira dinastia de Ur (século XXI a.C.).

Mas foi o que encontraram por baixo que se revelou revolucionário: camadas sucessivas de ocupação humana, templos sobre templos, que se estendiam até ao período de Ubaid (c. 5300–3800 a.C.), anterior ao aparecimento da escrita.

O templo de Enki, núcleo espiritual de Eridu, foi reconstruido inúmeras vezes ao longo de dois milénios.

A sucessão de templos, símbolo da transição do culto doméstico para a religião institucionalizada e do surgimento de hierarquias sociais e de arquitetura monumental, são sinais claros do nascimento da civilização urbana.

As últimas escavações publicadas no local datam de 1981, mas, apesar da instabilidade política da região, há planos para retomar os trabalhos e desvendar mais segredos desta cidade pioneira.

ZAP //

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