Do terrorismo ao turismo: um dos lugares mais temidos da Europa transformou-se por completo

Rituais tradicionais, comida caseira e trilhos na montanha. O Vale de Pankisi, na Geórgia, já foi associado a Bin Laden. Agora, é um ponto turístico a não perder.

Tudo começou nos anos 2000, quando o Vale de Pankisi foi abrigo para os chechenos que lá se refugiavam da guerra com a Rússia.

Entre os refugiados civis encontravam-se alguns militantes e antigos soldados. Ora, o lugar passou a ser associado a terrorismo, e até se especulava que lá se encontravam também membros da Al Qaeda, incluindo o seu próprio líder — nada mais nada menos do que Osama Bin Laden.

Sob pressão da Rússia e dos EUA, o governo georgiano lançou operações antiterroristas na região, marginalizada e com graves problemas económicos da população.

Mas, como aponta a BBC, a chamada “Crise de Pankisi” acabou por abrandar e a maioria dos refugiados chechenos deixou o vale em direção à Europa Central e Ocidental.

Mas a relação com o Estado Islâmico tinha o seu fundo de verdade: entre 2010 e 2016, cerca de 50 a 200 pessoas deixaram o vale de Pankisi em direção à Síria, atraídas pelas mensagens do ISIS. O mais famoso foi Abu Omar al-Shishani, um dos principais comandantes da organização.

A reputação estava instalada, e o lugar passou a ser um dos mais temidos da Europa. Até…

De lugar do terror a zona turística

Em 2020, o Ministério da Imigração dinamarquês referiu num relatório que “não existe uma elevada taxa de criminalidade em Pankisi. A região é muito calma”. Desde então, a localidade tem atraído centenas de visitantes devido à sua história — e beleza natural.

Diairamente, pode chegar ao vale a partir da capital da Geórgia, Tiblissi. Lá chegado, instale-se numa pensão típica e participe em cerimónias de dhikr — os Kists locais são muçulmanos sufistas, com tradições diferentes das da população maioritariamente ortodoxa da Geórgia — na antiga mesquita da aldeia de Duisi. Se for amante de natureza, faça caminhadas na Reserva Natural de Batsara.

“Quando entrei para a universidade em Tbilisi, os meus colegas ainda tinham estes estereótipos de que Pankisi não era segura”, diz à BBC Fatima, que trabalha como guia turística quando está em Duisi. “Tive de lhes explicar que esse tempo já lá vai. Este é um sítio muito pacífico. É isso que eu adoro nele.”

“As pessoas aqui adoram a vida ao ar livre. No verão, fazemos piqueniques na montanha ou andamos a cavalo nas colinas”, conta. “Acho que nunca conseguiria viver na cidade, vinda de um sítio como este”.

O turismo tem desempenhado um papel importante na quebra dos estereótipos negativos que rodeiam o vale“, diz a guia turística Emily Lush, que realça a hospitalidade e genuinidade da população local. “Mais importante ainda, o turismo deu às pessoas a oportunidade de falarem por si próprias”.

ZAP //

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