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A Alemanha moveu uma ponte 20 metros, como nunca antes. Mas como?

Método agilizou substituição de ponte antiga sobre vale e poupou recursos País quer acelerar a reforma ou reconstrução de 5 mil pontes rodoviárias.

Uma ponte com 70 metros de altura, equivalente a um edifício de vinte andares, e meio quilómetro de comprimento, foi deslocada 20 metros esta quarta-feira na Alemanha, num feito de engenharia inédito no país. A experiência poderá ser útil para acelerar a substituição de algumas pontes no país, que tem uma longa lista de estruturas a necessitar de reforma ou reconstrução.

A técnica dispensa a necessidade de interrupção do tráfego durante a substituição de pontes e tem como vantagens a poupança de recursos e um menor tempo de construção, segundo a Autobahn, a empresa pública responsável pelas autoestradas alemãs. A estrutura movimentada pesa 40 mil toneladas.

A ponte situa-se no município de Rinsdorf, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, no oeste da Alemanha e o mais populoso do país, e faz parte da autoestrada A45, que liga a cidade de Dortmund a Aschaffenburg, na Baviera. Só nesta autoestrada está prevista a substituição de mais de 60 pontes.

Como a ponte foi movimentada

Os seis pilares da ponte foram empurrados lentamente por grandes prensas hidráulicas, deslizando sobre uma estrutura semelhante a um grande carril coberto com material antiaderente Teflon e lubrificado com uma graxa especial. O processo durou cerca de 20 horas.

No final da “marcha”, a ponte, com três faixas de rodagem e berma, ficou alinhada com outra ponte semelhante, também com três faixas de rodagem e berma, a apenas 10 centímetros de distância. Cada ponte acolherá um sentido do fluxo de tráfego.

O feito técnico foi celebrado pelo governo federal alemão, que está sob pressão para acelerar os investimentos na melhoria da infraestrutura do país.

Claudia Elif Stutz, secretária do Ministério dos Transportes, acompanhou o movimento da estrutura e afirmou que a obra “é um sinal visível de que estamos a fazer bons progressos na modernização das pontes rodoviárias”.

Engenheiros vindos do Japão, interessados em aplicar a técnica, também assistiram ao movimento da ponte esta quarta-feira.

Porquê esta técnica

A ponte original que atravessava o vale do rio Eisernbach tinha sido construída em 1967, e avaliações estruturais indicaram a necessidade da sua substituição no início da década passada.

Interromper o tráfego na A45, porém, causaria grandes transtornos – circulam pela autoestrada cerca de 60 mil veículos por dia, incluindo camiões de carga. Decidiu-se pela construção de duas novas pontes, uma para cada sentido, em momentos diferentes, numa obra que durou cerca de oito anos.

Primeiro, a 20 metros da ponte antiga, começou a ser construída uma nova ponte em 2017. Assim que esta foi concluída, passou a acolher todo o tráfego do troço, e a ponte antiga foi demolida, em fevereiro de 2022 – tendo sido, na altura, a implosão mais alta de uma ponte rodoviária alguma vez feita no país.

No local da ponte demolida foi construída a segunda nova ponte. Uma vez concluída, esta assumiu todo o tráfego do troço, para que a parte mais desafiante do projeto pudesse ter lugar: empurrar 20 metros a primeira das duas novas pontes, até que esta ficasse encostada à estrutura mais recente.

A Autobahn afirma que a nova técnica adotada era a mais adequada para a região montanhosa. Construir ambas as estruturas novas com uma distância de 20 metros entre si, e depois mover uma delas por inteiro, dispensou a necessidade de construir pilares adicionais que só seriam usados durante a fase de obras – técnica mais comum em outras intervenções semelhantes no país.

Desta forma, foram reduzidos o tempo de construção, as emissões de poeiras e ruído, bem como o uso de betão e aço, e aumentou-se a segurança no estaleiro de obras, segundo a Autobahn.

Muitas reformas e reconstruções pela frente

O governo alemão estima que cerca de 5 mil das 40 mil pontes rodoviárias necessitam de reparações ou, nos casos mais graves, substituição. Mais de metade foi construída antes de 1985, a maioria sobre vales no oeste do país.

Projetadas para um tráfego menor e veículos mais leves, estas estruturas estão agora tão sobrecarregadas que algumas apresentam sinais evidentes de deterioração. Além disso, houve pouca manutenção nos últimos anos.

Um caso célebre, também na autoestrada A45, ocorreu no final de 2021, quando se constatou que a ponte Rahmede estava danificada ao ponto de ameaçar ruir, e teve de ser encerrada. Foi demolida em 2023 e está em construção uma nova ponte, mas a primeira secção só deverá ser inaugurada a meio de 2026. O desvio do tráfego para estradas secundárias causou engarrafamentos, ruído extremo e poluição nas aldeias da região, afetando negativamente a economia local.

O atual governo alemão, formado por democratas-cristãos (CDU/CSU) e sociais-democratas (SPD), prometeu acelerar a reforma e reconstrução das pontes do país. Para isso, conta com um pacote financeiro que prevê 500 mil milhões de euros para investimentos em infraestruturas nos próximos 12 anos – mas terá de enfrentar entraves e atrasos nos processos de concurso público e de obtenção de licenças para os projetos.

Outras técnicas de movimentação de pontes são utilizadas em grandes projetos de infraestruturas em todo o mundo para facilitar a construção e poupar recursos. Em 2019, por exemplo, a China rodou 52,4 graus uma ponte de 46 mil toneladas e 263 metros de comprimento, até que esta encaixasse na sua outra metade. Esse método foi usado para minimizar a interferência no tráfego ferroviário sob a estrutura durante a fase de obras.

// DW

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