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Quantas pessoas há no mundo? Podem ser milhares de milhões a mais do que pensamos

Populações rurais do planeta podem estar a ser subestimadas em 53% a 84%, conclui novo estudo.

A população mundial está a crescer (à partida, até 2080). Nós, humanos, passamos, no ano passado, a marca dos 8 mil milhões de vidas. Hoje, já somos 8,2 mil milhões.

Mas essas são as estimativas da ONU. Há quem estime que somos muitos mais — milhares de milhões mais.

Um estudo finlandês, publicado em março na Nature Communications, “fornece, pela primeira vez, evidências de que uma proporção significativa da população rural pode estar ausente dos conjuntos de dados populacionais globais”.

Quem o diz é o autor da investigação Josias Láng-Ritter, da Universidade Aalto, citado pela EurekAlert!, apontando o dedo aos censos e aos dados de densidade populacional pelos quais a ONU se guia. Os censos são limitados: há áreas de difícil acesso.

Estes conjuntos de dados podem assim estar a subestimar as populações rurais em 53% a 84%, de acordo com o estudo. Como diz Jonathan Kennedy, investigador da Queen Mary University of London, num artigo de opinião recentemente publicado no The Guardian: a superpopulação “raramente se resume a números”.

Os governos, agências e investigadores podem estar a basear-se, desta forma, em mapas populacionais completamente falsos — mapas esses que são essenciais, por exemplo, no planeamento de infraestruturas, na alocação de recursos de saúde, na resposta a desastres e na resposta a epidemias, enumeram os autores.

“Ficámos surpreendidos ao descobrir que a população real que vive em áreas rurais é muito superior ao que indicam os dados populacionais globais”, confessa o autor. Estes dados “apoiam amplamente a tomada de decisões, mas a sua precisão não foi avaliada de forma sistemática”.

O estudo comparou os cinco conjuntos de dados populacionais globais mais utilizados — WorldPop, GWP, GRUMP, LandScan e GHS-POP — com dados populacionais de mais de 300 projetos de realojamento rural em 35 países, que deram à equipa uma uma fonte única e mais precisa de dados populacionais rurais.

Os dados só foram obtidos graças às empresas que constróem barragens, que são legalmente obrigadas a fazer recenseamentos para determinar a indemnização dos residentes deslocados. A subcontagem sistemática das populações rurais, em diferentes regiões mundiais e períodos de tempo, foi a conclusão obtida a partir do cruzamento desses dados com informações espaciais de imagens de satélite.

Os conjuntos de dados de 2010 foram considerados os mais precisos, mas mesmo assim subestimaram as populações rurais em 32% a 77% (o estudo concentrou-se no período de 1975 a 2010, devido às limitações dos dados disponíveis sobre projetos de barragens mais recentes. Embora tenham sido publicados mapas populacionais mais recentes para 2015 e 2020, os investigadores argumentam que as questões de recolha de dados continuam por resolver).

As discrepâncias são particularmente grandes em países como China, Brasil, Austrália, Polónia e Colômbia, onde os dados locais mais detalhados facilitaram a exposição da subcontagem.

Atualmente, cerca de 43% dos 8,2 mil milhões de pessoas no mundo vivem em áreas rurais, lembram os autores, e as decisões sobre onde construir estradas, hospitais e escolas dependem, também, de estimativas populacionais. Se as populações rurais forem subestimadas, comunidades inteiras podem ser mal servidas e subfinanciadas.

“Em muitos países, pode não haver dados suficientes disponíveis a nível nacional, pelo que dependem de mapas populacionais globais para apoiar a sua tomada de decisões: precisamos de uma estrada asfaltada ou de um hospital? Quanta medicação é necessária numa determinada área? Quantas pessoas podem ser afetadas por catástrofes naturais, como terramotos ou inundações?”, enumera Láng-Ritter.

“Embora o nosso estudo mostre que a precisão melhorou um pouco ao longo das décadas, a tendência é clara: os conjuntos de dados populacionais globais omitem uma parte significativa da população rural. Com as mesmas práticas básicas em vigor, é improvável que dados de entrada ligeiramente melhorados possam corrigir este nível de enviesamento. E mesmo que os mapas populacionais mais recentes refletissem a realidade, os conjuntos de dados anteriores influenciaram a tomada de decisões durante décadas”, afirma o finlandês.

Tomás Guimarães, ZAP //

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