A cantora Cassie, que teve uma relação com Diddy durante mais de 10 anos, já prestou as suas primeiras declarações no julgamento do rapper, que é acusado de liderar uma rede de tráfico sexual.
Já arrancou o julgamento de Sean “Diddy” Combs, o magnata do hip-hop que está a ser acusado de liderar uma rede de tráfico sexual que terá feito centenas de vítimas.
Na sua primeira intervenção, a procuradora Emily A. Johnson explicou que a acusação incluirá os testemunhos de três mulheres: Casandra Ventura, a cantora conhecida como Cassie que teve uma relação conturbada com Diddy durante 11 anos, assim como duas outras alegadas vítimas anónimas.
Recorde-se que a investigação federal a Diddy começou depois de Cassie o processar em 2023, acusando-o de violência doméstica. No centro da acusação está uma agressão que ocorreu no corredor de um hotel de Los Angeles em 2016 captada pelas câmaras de videovigilância. As imagens, que mostram Combs a pontapear e arrastar Cassie pelos cabelos, foram tornadas públicas no ano passado, apesar de o rapper ter tentado subornar o hotel, segundo a procuradora.
A procuradora refere ainda que Combs chantageava Ventura quando esta se queria separar dele. “Ameaçou-a e disse-lhe que se ela voltasse a desafiá-lo, divulgaria vídeos dela a ter relações sexuais com acompanhantes masculinos”, continuou.
“Um olhar diabólico”
A primeira testemunha a prestar declarações foi Israel Florez, um agente da polícia de Los Angeles que era segurança no hotel InterContinental na altura da agressão. Florez testemunhou que foi chamado por causa de uma “mulher em perigo no sexto andar” e encontrou Ventura com um capuz num canto, enquanto Combs estava sentado com “um olhar diabólico”, cita o The Guardian.
O ex-segurança disse que acompanhou o casal até ao seu quarto e testemunhou que Combs terá dito a Ventura que ela não podia sair do hotel e que lhe terá dito para sair do quarto. Depois da cantora ter saído do quarto, Combs terá oferecido dinheiro a Florez. “Ele estava a dizer-me: ‘Não digas a ninguém’”, declarou.
A segunda testemunha foi Daniel Phillip, um acompanhante de luxo que alega ter recebido dinheiro de Ventura em 2012 para ter relações sexuais com ela em frente a Combs. Phillip testemunhou que Combs estava a usar um roupão branco, um boné de basebol e um lenço na cara para tentar ocultar a sua identidade, enquanto se masturbava. No entanto, a testemunha alega que o reconheceu pela voz.
Phillip testemunhou ainda que Combs lhe pediu a carta de condução e tirou uma fotografia da mesma, dizendo-lhe na altura que era “só para se assegurar”. “Entendi que ele me estava a ameaçar”, afirmou.
Durante os encontros sexuais com Ventura, Combs “orientava-os” e Phillip alega ter presenciado situações em que o rapper agrediu a namorada, tendo ficado “aterrorizado” com medo de o denunciar porque se tratava de “alguém com um poder ilimitado e, mesmo que eu fosse à polícia, poderia acabar por perder a minha vida”.
“O controlo era tudo”
Esta terça-feira falou Cassie, a testemunha principal da acusação. A cantora alega que Combs controlava a sua vida e a coagia a atos sexuais “humilhantes” durante os chamados “freak-offs”.
Atualmente com 38 anos e grávida do seu terceiro filho, Ventura explicou que conheceu Combs quando era uma aspirante a cantora de 19 anos e ele tinha 37. A cantora refere que se “apaixonou” pelo “empresário e músico de grande dimensão”, mas que não tardou a descobrir o seu lado mais sinistro.
A artista alega que Combs controlava todos os aspetos da sua vida e que pagava a sua casa, os seus carros, o seu telefone e outras tecnologias que, por vezes, lhe tirava para a “castigar”. “O controlo era tudo, desde o meu aspeto até ao meu trabalho”, alega, citada pela BBC.
Cassie explica que o controlo acabou por se tornar violento. “Batia-me na cabeça, derrubava-me, arrastava-me e pontapeava-me”, testemunhou vezes entre lágrimas, referindo que ficou com os lábios inchados, os olhos negros e nós na testa.
A cantora detalhou ainda que era coagida a praticar atos sexuais humilhantes, incluindo durante a sua menstruação e descreveu um incidente “nojento” em que tanto Combs como um acompanhante masculino urinaram na sua boca.
Cassie garante ainda que nunca quis ter relações sexuais com ninguém a não ser com Combs e que tomava drogas, desde marijuana a ecstasy para se “desassociar”. “Era uma forma de não sentir o que realmente se passava”, declarou.
Ventura explicou ainda a obsessão de Diddy com o óleo de bebé, isto depois de terem sido encontradas mais de 1000 garrafas quando o rapper foi detido. A alegada vítima explica que Combs queria que o óleo de bebé fosse aquecido com água quente e que “ficasse a brilhar, por isso aplicávamo-lo de cinco em cinco minutos”.
A cantora recorda uma situação em que teve de entrar numa piscina “cheia” de óleo de bebé. “Se Sean queria que isso acontecesse, era isso que ia acontecer. Eu não podia dizer não”, afirmou.
Ventura deverá continuar o seu depoimento esta quarta-feira, altura em que deverá ser interrogada pela defesa de Sean Combs.