
Filipe Barros e João Barão criaram o VotaAI, um projeto que visa aumentar a literacia política, reduzir a abstenção, mas principalmente “tornar o voto de todas as pessoas mais informado”.
Dois estudantes da Universidade do Porto (UP), Filipe Barros e João Barão, criaram a plataforma VotaAI, que responde “em segundos” a perguntas sobre os programas eleitorais dos partidos com assento parlamentar que concorrem às eleições legislativas de 18 de maio.
A VotaAI é uma plataforma gratuita que funciona como “um assistente criado com inteligência artificial (IA) que, em segundos, ajuda [os utilizadores] a perceber as medidas dos partidos” que têm assento parlamentar, com base nos programas eleitorais para as Legislativas 2025.
O projeto desenvolvido por dois finalistas da licenciatura em Inteligência Artificial e Ciência de Dados (LIACD) da Faculdade de Ciências (FCUP) e de Engenharia (FEUP) da Universidade do Porto, Filipe Barros e João Barão, visa aumentar a literacia política, reduzir a abstenção e “tornar o voto de todas as pessoas mais informado”.
“A realidade portuguesa – e, acredito, também a internacional – é que, muitas vezes, acabamos por votar em algo que não conhecemos assim tão bem. Depois, surpreendemo-nos com medidas que o partido em que votámos realmente defende”, considerou João Barão em entrevista ao JPN, frisando que nem sempre as pessoas têm “tempo ou disponibilidade” para ler os programas eleitorais.
A ferramenta alia conhecimento técnico – como técnicas avançadas de processamento de linguagem natural (NLP) e modelos de linguagem de última geração – à vontade de criar “algo com impacto”.
“Com a aproximação das eleições, começaram a surgir perguntas como: ‘O que é que aquele partido defende?’. A resposta habitual era: ‘Vai ver o programa.’ Mas isso significava ler documentos com 200 páginas. Foi assim que surgiu a ideia de criar este assistente, capaz de responder às perguntas de forma rápida e simples”, explicou Filipe Barros.
Segundo os criadores, o que torna esta plataforma de IA diferente de outros modelos de linguagem é a utilização de dados atualizados, extraídos diretamente dos programas eleitorais de 2025, e um foco na imparcialidade.
“Quando alguém faz uma pergunta, [o assistente] vai buscar a informação mais relevante para responder àquela questão aos programas [eleitorais] e responde apenas com base neles, o que garante que não está enviesado enquanto [outras plataformas] respondem com base em toda a informação que está na internet sobre aquele partido, sobre aquele tema, ou seja, já pode ficar mais enviesado”, esclareceu João Barão.
Para minimizar enviesamentos, os dois estudantes implementaram mecanismos como a apresentação de respostas comparativas entre partidos numa ordem fixa, definida com base na representação parlamentar (do partido com maior número de deputados eleitos para o partido com menor número de deputados).

A apresentação das respostas comparativas entre partidos aparece numa ordem fixa, definida com base na representação parlamentar.
Além dos programas eleitorais, a plataforma também inclui dados oficiais complementares, como o número de deputados de cada partido, informações sobre os horários em que as pessoas podem votar, detalhes sobre o voto antecipado, entre outros.
Embora um dos propósitos seja proporcionar a todos os utilizadores “um acesso mais simples à informação“, os criadores sublinham que é possível pedir ao assistente que aprofunde certas temáticas.
“Queremos chegar a toda a gente no país, por isso optámos por generalizar as respostas. Se alguém pedisse, por exemplo, todas as medidas para a habitação de todos os partidos com detalhe, o assistente acabaria por gerar páginas e páginas de texto. Por isso, quem quiser algo mais aprofundado pode sempre fazer perguntas mais específicas, como ‘quais são as medidas para a habitação deste partido’, e aí obtém uma resposta mais detalhada”, clarificou Filipe Barros.
Até ao momento, a plataforma já registou cerca de 50 mil visitas. Embora reconheçam que, por se tratar de uma ferramenta baseada em Inteligência Artificial, possa despertar maior interesse entre os mais jovens, os estudantes destacam que o VotaAI tem sido bem recebido por diferentes gerações: “Mesmo adultos de 50 anos, que nunca sequer leram um programa partidário, já usaram a plataforma e disseram que realmente é muito útil”.
Filipe Barros e João Barão admitem o interesse em expandir a plataforma para outros atos eleitorais, como as autárquicas, europeias ou presidenciais. No entanto, reconhecem que cada contexto traz desafios específicos — no caso das autárquicas, por exemplo, a multiplicidade de municípios e programas torna a tarefa mais complexa.
Ainda assim, sublinham o potencial da IA como uma ferramenta essencial para reforçar a democracia, ao simplificar o acesso à informação e aproximar os cidadãos das decisões políticas.
// JPN