Simulação prevê que Aveline vai ser Papa

Vatican Media

Papa Francisco com Jean-Marc Aveline

Já as apostas colocam Pietro Parolin como sucessor de Francisco. Dificilmente Tolentino de Mendonça será o escolhido.

A escolha do sucessor do Papa Francisco está próxima. O Conclave tem início na quarta-feira, dia 7 de maio e caberá aos 133 cardeais eleitores, com menos de 80 anos, a responsabilidade de escolher o sucessor de Francisco.

Todos os dias serão feitas quatro votações e o futuro Papa deverá ter pelo menos dois terços dos boletins contados.

Uma análise de cenários de votos no Conclave feita pelo MediaLab, do ISCTE, aponta o cardeal de Marselha à frente de um grupo restrito para suceder ao Papa Francisco, com o português Tolentino de Mendonça a estar também incluído.

De acordo com o Relatório de Prospetiva da estrutura do ISCTE a que a Lusa teve hoje acesso, os autores estabelecem três cenários prospetivos em que os votos se possam alinhar e existem três nomes que são indicados em duas dessas grelhas: os cardeais Jean-Marc Aveline (Marselha), Matteo Maria Zuppi (Bolonha) e Pietro Parolin (secretário de Estado).

Destes três, “ao introduzir uma simulação de votação estratégica com os candidatos presentes nos três cenários e uma majoração estratégica para candidatos surpresa, o resultado prospetivo apurado foi a eleição de Jean-Marc Aveline”, que é apresentado como o candidato da Proximidade e Diálogo.

Os autores, Gustavo Cardoso e Carlos Picassinos, definem três cenários, que definirão as prioridades de voto dos cardeais eleitores, a “continuidade”, “surpresa” e aquilo que designam como a “força dos fracos”, uma combinação de análise ao “alinhamento com as prioridades emergentes da Igreja”, a “representação de periferias”, uma “influência inesperada ou perfil em ascensão”, “liderança em contextos de crise ou transição cultural” e “capacidade de diálogo entre reformistas e conservadores”.

E é nesta categoria de “força dos fracos” que os autores colocam o português Tolentino de Mendonça, o prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, a par de Jean-Marc Aveline e Matteo Maria Zuppi.

A análise combina “critérios qualitativos e dados simulados do conclave para identificar caminhos plausíveis para os resultados da eleição papal”, procurando “captar a complexidade de um processo moldado por expectativas teológicas, dinâmicas globais da Igreja e realinhamentos de fações dentro do Colégio de Cardeais”.

No cenário da “continuidade” com o papado anterior de Francisco, os autores colocam Matteo Maria Zuppi, Pietro Parolin e o filipino Luís António Tagle, atual prefeito do Dicastério para a Evangelização.

O cenário da “surpresa” são incluídos Jean-Marc Aveline, Pietro Parolin, e Fridolin Ambongo Besungu (presidente do Simpósio das Conferências Episcopais de África e Madagáscar).

Segundo o Relatório de Prospetiva MediaLab, denominado “Cenários para a Sucessão do Papa Francisco”, a eleição do português Tolentino de Mendonça só poderia suceder num cenário de “rutura”, em que “teriam que ocorrer um conjunto de ações e eventos, tanto diretamente geríveis por si e seus potenciais apoiantes, como autónomas da sua decisão”.

Por isso, “uma potencial vitória do cardeal José Tolentino de Mendonça necessitaria de uma reconfiguração da sua imagem perante os seus pares, de poeta a profeta, como uma voz profética para um mundo ferido, um Papa que compreendesse a alma da humanidade em crise e não só das instituições da Igreja”, referem os autores.

Além disso, “o cardeal José Tolentino de Mendonça necessitaria igualmente de formar alianças estratégicas pré-conclave unindo blocos diversos”, em particular “os moderados curiais que não pretendem ruturas, os cardeais do sul global que valorizam a perspetiva lusófona e os europeus que apreciam a sua inteligência e ausência de radicalismo”.

E depois, “na dimensão externa ao controle dos ‘papabili’ teria de ocorrer no próximo mês uma crise internacional envolvendo religião e cultura, bem como um conjunto de escândalos ou impasses institucionais na Cúria” e no processo eleitoral, “teria de ocorrer uma viragem decisiva nas expectativas face às votações em Matteo Zuppi e Jean-Marc Aveline”.

Só assim seria possível que “um grupo de cardeais latino-americanos alavancasse Tolentino como um unificador silencioso”, vaticinam os autores, analisando os perfis dos eleitores.

“Para uma potencial eleição, o Cardeal Tolentino de Mendonça necessitaria de cerca de 20 a 25 votos de um bloco lusófono e cultural curial, junto a 10 a 15 votos de cardeais da América Latina cansados de polarização, mais 10 votos da Europa equidistante e, por fim, o apoio dos cardeais da África e Ásia apoiando um candidato que escuta e tem perfil global”, pode ler-se no relatório.

Perante estas dificuldades, os autores admitem que, “embora nada seja impossível, a eleição de um cardeal português como próximo Papa afigura-se como particularmente difícil e pouco provável à data deste relatório”.

Contudo, “a partir do momento que se entrar na sala do conclave e este tiver início todas as considerações anteriores podem desvanecer-se”, escrevem.

Apostas têm outro favorito

O secretário de Estado de Francisco, Pietro Parolin, é o favorito destacado na maioria das bolsas de apostas online para ser o novo Papa eleito no Conclave de Cardeais.

Numa consulta pelas principais bolsas de apostas, agregadas na plataforma oddschecker.com, Parolin segue destacado nas 16 casas online que permitem apostar no futuro Papa, o que mostra a força do cardeal nascido em Roma e que era secretário de Estado de Francisco há mais de 10 anos e tem sido considerado o mais consensual na sua sucessão.

A criação de cardeais de várias nacionalidades – o consistório tem um recorde de nomes – e a maior diversidade de formação dos escolhidos cria um dos conclaves mais imprevisíveis na história mais recente da Igreja Católica.

Parolin é um dos poucos cardeais que conhece a totalidade dos nomeados por Francisco, devido ao seu papel na diplomacia do Vaticano, tem tido abordagens de continuidade em relação ao Papa argentino nos temas mais fraturantes e tem como pontos mais fracos a falta de experiência administrativa – nunca foi pároco ou bispo diocesano – e o acordo celebrado com a China para o reconhecimento da hierarquia católica naquele país.

A seguir a Parolin, na quase totalidade das casas de apostas, segue o filipino Luis Antonio Tagle, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, um dos ministérios mais importantes da Cúria romana, conhecido por ser progressista num continente que tem uma Igreja mais conservadora.

Com experiência pastoral e de gestão diocesana, Tagle é o favorito de muito dos que defendem as periferias e tem um estilo pessoal mais informal, muito próximo de Francisco.

A partir destes dois, os nomes na oddschecker.com já são mais variados, com destaque ligeiro para o ganês Peter Turkson, nomeado por João Paulo II e antigo presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, que já era um dos nomes em ascensão durante a eleição de Bergoglio, em 2012, e o italiano Matteo Zuppi, cardeal de Bolonha, presidente da Conferência Episcopal Italiana e considerado o mais progressista entre os nomes mais fortes do conclave.

Seguem-se o italiano Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém, o húngaro Peter Erdo e o guineense Robert Sarah, vistos com bons olhos por alguns setores menos progressistas.

O maltês Mario Grech (atual secretário do Sínodo dos Bispos), o francês Jean-Marc Aveline (arcebispo de Marselha e líder na análise do ISCTE) e congolês Fridolin Besungu (presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagáscar) fecham o ‘top-ten’ de favoritos, com os dois primeiros a estarem muito ligados ao processo de diálogo interno iniciado por Francisco.

O português Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Educação e Cultura, aparece na lista da oddschecker.com, ocupando o 25.º lugar, com os que vão de 1 para 25 na PaddyPower, Ladbrokes, Betfair Sportsbook, Starr Sports ou Coral, de 1 para 50 na Unibet, BetVictor, BetMGM ou LiveScore.

Na plataforma Polymarket, outro grande agregador de apostas mundial, Tolentino de Mendonça está mais bem classificado, ocupando o oitavo lugar, com dois por cento de hipóteses de ser o novo Papa, uma lista liderada por Parolin (27%), Tagle (19%), Turkson (13%) e Zuppi (12%).

Para ganhar um euro com Parolin é necessário apostar 28 cêntimos. Já no caso de Tolentino de Mendonça, basta apostar 1,8 cêntimos para ganhar o mesmo valor, caso o religioso madeirense seja eleito Papa.

Nesta plataforma, há ainda quem aposte em como o Conclave não vai chegar a acordo na escolha de um Papa em 2025, com apostas na ordem de 0,4 cêntimos para obter um euro, neste cenário pouco provável.

ZAP // Lusa

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