As crianças que não sabem falar russo passaram a estar proibidas nas escolas, nem são aceites. Não há alternativa gratuita.
“Se uma criança não sabe russo, porquê empurrá-la para uma escola russa? Não seria melhor se estudasse na sua língua nativa na sua terra natal?”.
As perguntas foram deixadas há umas semanas em Moscovo pelo responsável do Conselho Presidencial para os Direitos Humanos da Rússia, Valery Fadeyev.
A lei começou há poucas semanas, no dia 1 de Abril: as autoridades russas proibiram as escolas de admitir filhos de migrantes que não sabem falar russo.
O documento foi elaborado pela Duma Estatal, inserido numa campanha de combate aos trabalhadores migrantes, descreve o Verstka.
A nova lei não prevê preparação gratuita fora da escola. Não há alternativa fornecida pelo Estado em relação ao conhecimento da língua.
Ou seja, e como reforça o Verstka, a criança deve desenrascar-se com os pais, tem de aprender a falar russo com os pais (que são estrangeiros).
O documento exige que as crianças estrangeiras façam exames de diálogos e compreensão oral logo a partir da 1.ª classe, além de exames de leitura e escrita a partir da 2.ª classe.
Para poderem entrar na primária, os alunos têm de compreender um texto de ficção de um máximo de 20 palavras e, depois, conseguir responder a perguntas sobre o conteúdo do texto com base em desenhos ou fotografias; e têm de conseguir participar num diálogo quotidiano.
Os alunos da 2.ª classe devem ler até 25 palavras com entoação de acordo com os sinais de pontuação, distinguir entre vogais e consoantes, contar sílabas e “compreender o significado da língua russa como língua oficial da Federação Russa”, lê-se no documento do Ministério da Educação.
Além dos testes, as autoridades querem verificar imediatamente se esses alunos têm todos os documentos legais necessários.
Para se inscreverem na escola, os pais são obrigados a dar cópias de documentos que comprovem a presença legal da criança e do seu representante no país. Os requisitos obrigatórios incluem agora a recolha de impressões digitais e fotografia a partir dos 6 anos de idade.
O presidente Vladimir Putin apoiou a iniciativa, durante uma transmissão em directo: “Como se pode ensinar uma criança na escola se ela não fala a língua? Depois precisa de estudar russo separadamente. Quem vai pagar por isso?”.
Esta nova lei tem um contexto: o ataque terrorista na sala de concertos Crocus City Hall, há cerca de um ano. Esse momento intensificou a retórica anti-migração do Kremlin.
Em 2024, mais de 80 mil migrantes foram expulsos da Rússia – um país que, recorde-se, enfrenta uma grave escassez de mão-de-obra.