O último dos três sobreviventes de um grupo de comandos norte-coreanos que tentou assassinar o presidente sul-coreano, num audacioso raid durante a Guerra Fria, morreu esta quarta-feira, aos 82 anos.
O antigo comando norte-coreano Kim Shin-jo, que após o fracasso da ousada tentativa de assassinar o então presidente sul-coreano Park Chung-hee, em 1968, desertou para a Coreia do Sul, morreu esta quarta-feira.
A morte foi anunciada pela Igreja Sungrak, em Seul, à qual Kim Shin-jo tinha aderido após a sua reinserção, e na qual foi ordenado pastor em 1997.
Não foi indicada a causa da morte do antigo comando, de 82 anos, diz o The Washington Post.
Kim Shin-jo fazia parte de uma equipa de 31 comandos norte-coreanos que tentaram invadir o palácio presidencial da Coreia do Sul, situado na montanha de Bugaksan, para assassinar Park, o presidente autoritário que governava a Coreia do Sul desde 1961.
Os norte-coreanos passaram despercebidos pela fronteira fortemente fortificada das Coreias e aproximaram-se da Casa Azul — nome do palácio presidencial sul-coreano — onde se encontrava Park.
Após batalhas que duraram duas semanas nas colinas próximas da Casa Azul, todos os invasores, exceto três, foram mortos. Dois sobreviventes terão fugido para a Coreia do Norte, enquanto Kim Shin-jo foi o único a ser capturado com vida.
Numa conferência de imprensa organizada na altura pelas autoridades sul-coreanas, Kim Shin-jo surpreendeu a nação ao dizer que a sua equipa tinha vindo “para cortar a garganta a Park Chung-hee“.
A infiltração, que também matou cerca de 30 militares sul-coreanos, ocorreu num contexto de tensões da Guerra Fria entre as Coreias rivais, que se dividiram entre o Sul, apoiado pelos EUA, e o Norte, apoiado pela União Soviética, no final da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
Na sequência do incidente, o governo de Park criou uma unidade militar encarregada de atacar a Coreia do Norte, obrigou os estudantes a receber formação militar nas escolas e introduziu sistemas de cartões de registo residencial.
Em entrevistas aos meios de comunicação social, Kim Shin-jo disse que foi perdoado porque não disparou uma única bala durante os tiroteios e foi persuadido por funcionários sul-coreanos a renegar o comunismo.
Mais tarde, as autoridades dos serviços secretos sul-coreanos obrigaram-no a viajar por todo o país para proferir discursos críticos sobre os sistemas norte-coreanos em escolas, empresas e outros locais.
Kim Shin-jo conta que soube mais tarde que os seus pais, que tinham ficado na Coreia do Norte, tinham sido executados.
O antigo comando deixa a mulher, que conheceu depois de se ter instalado na Coreia do Sul, e dois filhos, informou a sua igreja.
Segundo Kim Shin-jo, o ataque de 1968 foi feito por ordem do fundador da Coreia do Norte e então líder Kim Il Sung, o falecido avô do atual governante Kim Jong Un.
Kim Il Sung morreu de ataque cardíaco em 1994, passando o poder ao seu filho Kim Jong Il, pai de Kim Jong Un.
“Antes não sabia por que razão Kim Il Sung queria matar o presidente Park”, disse Kim Shin-jo numa entrevista de 2009 ao jornal sul-coreano JoongAng Ilbo. “Mas fiquei a saber a razão quando passei algum tempo aqui. Kim devia ter medo que um país pobre como a Coreia do Sul se tornasse rico”.
“À medida que a economia melhorasse, a Coreia do Sul conseguiria mais dinheiro para comprar armas. Na perspetiva de Kim Il Sung, ele não podia deixar de matar o presidente Park para conseguir a comunização da Coreia do Sul“, conclui Kim.
Então quis matar o presidente de um país para o qual foi viver depois?!
Eh pah, ao fim destas décadas todas e ninguém tinha pensado nisso. És um génio!!